Beja: RI1 pode ganhar mais importância na formação de militares.


“Se for aprovada uma proposta da Direção de Formação do Exército, o Regimento de Infantaria (RI) 1 passa a ser um dos dois centros de formação de militares do País”, revelou o coronel João Henriques, comandante da Unidade.

Na primeira entrevista que concedeu, desde que no passado dia 23 de fevereiro assumiu o comando do Regimento de Infantaria (RI) 1, o coronel João Henriques fala com otimismo do futuro da unidade, considerada de excelência na formação de recrutas. O oficial, de 52 anos, o quarto comandante desde que o RI1 foi aquartelado em Beja, já conhecia os “cantos à casa” uma fez que esteve durante um ano no então RI3, preparando um Batalhão Paraquedista para a Bósnia.

Lidador Notícias (LN): O senhor é um oficial paraquedista de méritos reconhecidos, quando foi nomeado para vir Beja, comandar o RI1, unidade distinta do que tem sido o seu dia-a-dia na vida militar, qual foi o seu primeiro pensamento?

Coronel João Henriques (CJH): Tinha “trabalho prometido” para ir para Évora, numas funções diferentes, trabalho de Estado-Maior, serviço de secretaria e o Comando é uma função com outro relevo e outra importância. Falando como cidadão, toda a gente que é promovida ao posto de coronel “está mortinha” para vir comandar um regimento. Moro em Torres Novas e ao ter a possibilidade de vir para uma cidade ao nível daquela onde vivo é mais um desafio e foi com agrado que recebi a notícia de vir comandar este regimento.

LN: Já conhecia o Regimento de Infantaria (RIBE, RI3 ou RI1)?

CJH: Já cá tinha estado durante quase um ano no aprontamento de um Batalhão de Paraquedistas para a Bósnia (n.d.r.: 3º Batalhão de Infantaria Paraquedista neste regimento (2003/2004), na altura, Regimento de Infantaria Nº 3). Não fiquei com um conhecimento profundo, mas, fiquei com uma excelente impressão dos seus profissionais.

LN: Diz quem o conhece que é um dos melhores oficias ao nível das Tropas Paraquedistas e que merecia muito mais, se bem que o RI1 ganhou um magnífico comandante. Que comentário lhe merece esta referência?

CJH: Não gosto de falar sobre mim. Nos paraquedistas há oficiais muito bons, com as mesmas competências do que eu. O “meu calibre”, por assim dizer, é porque sempre fui um homem de terreno e ser um gajo desenrascado. Tecnicamente em paraquedismo, há pouca gente que chega ao meu patamar. A origem desta referência à minha pessoa, lê-se com agrado, mas não sou “o melhor gajo do mundo”. Sou uma pessoa normal, muito terra-a-terra “sum punhos de renda”.

Beja “ganhou” um magnífico Comandante!

Major-General Carlos Perestrelo

Alentejano e Ex-Comandante da Brigada de Reação Rápida (BrigRR) 2014-2017  (foto nas cerimónias realizadas em Beja no 7º aniversário da BrigRR – 29Set2012).

“O Coronel Paraquedista João António Rodrigues Henriques possui uma vasta e notável carreira militar que o colocam entre os mais qualificados militares para o exercício de comando. Com uma ascensão progressiva de excelência veio a ocupar relevantes cargos de comando e estado-maior, aos vários escalões, sendo sempre reconhecido pela generalidade dos superiores e subordinados. A sua conduta e os valores por ele transmitidos constituíram-no sempre como uma referência e um exemplo. Tem igualmente uma relevante experiência em estruturas de comando da NATO e com uma distinta participação em Teatros de Operações dos mais complexos. Curiosamente com uma insigne carreira nas Tropas Paraquedistas, tornou-se num oficial de elevada estirpe com as mais altas qualificações aeroterrestres e que o tornaram como um dos melhores especialistas ao nível nacional e internacional. Não lhe tendo sido reservado, como seria natural, o comando da “Casa-Mãe” dos Paraquedistas ou dum Regimento de militares da “Boina Verde”, foi-lhe destinado, e muito bem, “O Primeiro da Infantaria”. Beja “ganhou”! Estou convicto que vão conhecer as qualidades invulgares dum ser humano cuja formação e têmpera será em breve do conhecimento da comunidade alentejana. Ele, como poucos, saltando em para-quedas, voou dezenas de vezes nos céus da linda região de Beja e porventura teria sido esse, um dos presságios para que um dia fosse o responsável máximo do histórico Regimento do Baixo Alentejo. Parabéns! Desejamos todos os maiores sucessos ao novo Comandante Militar do “Baixo Alentejo e Algarve”.  

LN: Chegou à unidade há dois meses. O que encontrou no “interior dos muros” do RI1?

CJH: Em termos de história que a unidade herdou do RI16, RI17, RIBE e RI3, é de momento um facto adiado. Há muita herança de todos os regimentos de que somos herdeiros e que merece ser bem tratada e a será uma prioridade, preservar essa memória histórica. A partir do final de maio, depois da inspeção de 25 e 26, vamos reconfigurar alguns espaços para fazer a evolução história desde o início e até aos nossos dias. Temos muito material em armazém, há uma caserna com material que veio de Tavira e que já tinha sido deslocado na Carregueira. O Livro de Honra tem assinaturas do Rei D.Manuel II. Eventualmente sairei daqui e o trabalho pode não estar feito na totalidade.

LN: Que inspeção é essa de que o regimento vai ser alvo?

CJH: É uma “visita” de rotina da Inspeção-Geral do Exército, que de dois em dois anos certifica a cadeia de comando que cumpre as normas emanadas das chefias e ciclicamente é feita a vistoria em todas as áreas se está tudo conforme o determinado.

LN: Hoje os tempos são diferentes e com efetivos diferentes, que hoje ronda a centena de militares. Como é o dia-a-dia da unidade?

CJH: O RI1 não tem encargo operacional e além o apoio à população, autoridades locais e forças de segurança, a principal missão do regimento é a formação. Somos um dos polos principais da formação do Exército. O quadro orgânico está desenhado para fazer face a essas missões. Além dos centros de formação das Forças Especiais dos Paraquedistas (Tancos), Comandos (Carregueira) e Rangers (Lamego), o Exército tem, incluindo Beja sete centros de formação e com o aliviar da pandemia, a vacinação e consequente imunidade e para reagrupar de recursos deverão ficar somente dois. Se a proposta da Direção de Formação for aprovada os Regimento de Infantaria 1 (Beja) e o 19 (Chaves) serão os dois grandes centros do sector.

LN: A verificar-se a aprovação dessa proposta há o reforço da importância do regimento e para a cidade e região?

CJH: Significará o aumento de formandos a incorporar, reforça a confiança do Exercito no RI1 e mais pessoas que estarão próximas da cidade que poderão dar-lhe mais vida.

LN: Uma das críticas dos últimos tempos é que o regimento se afastou da cidade. Dos recentes contatos com autoridades locais ficou com essa perspetiva?

CJH: Quando se enverada pela vida castrense, todos militares os o fazem e eu falo por mim com a ideia e o pensamento do que “posso eu fazer para ajudar o meu país” e a analogia local é precisamente igual: “o que posso eu fazer para ajudar esta região”. Estamos cá para ajudar a comunidade. A cooperação entre o regimento seja o 3 ou o 1, tem sido sempre a maior com as instituições locais.

LN: É o quinto comandante do RI1. Chegou agora, mas quando sair como gostava que o coronel João Henriques ficasse conhecido?

CJH: Não espero fazer coisas para depois ser agradecido. Não é no final, mas, em permanência, estou aqui para comandar as pessoas e não mandar nas pessoas. Equilibrar a expetativa com o resultado final. Já comandei unidades de mais baixo escalão e sempre procurei cumprir as missões sem perdas, e defendo que as pessoas façam sempre as coisas com gosto e não venham contrariadas, por causa do chefe. Ser comandante é uma coisa e mandante é diferente, este não reforça o espirito de grupo.

LN: Sendo um homem de saltos de paraquedas, tanto militar como civil, desde que está em Beja já fez algum salto no Aeródromo Civil ou na BA11?

CJH: Os aeródromos de Figueira de Cavaleiros (Ferreira do Alentejo) e Évora as zonas principais para os saltos. Para além de Évora, já saltei para a BA11, aqui para o Regimento, para o Campo de Futebol, para Mina de São Domingos já tenho uma pegada um pouco pelo território. Se não fossem as muitas autorizações para o fazer, um dia podia saltar para a Parada da unidade. Tenho que dar um estágio no primeiro fim-de-semana de maio, em Évora, um campeonato em final de maio e em meados de junho espero ir ao túnel de vento, em Madrid.

João Henriques foi Campeão Nacional de Paraquedismo durante 11 anos com a equipa Atmosfera G4 e atualmente integra a equipa Fly4fun. Em fevereiro de 2019 foi galardoado como “Personalidade do Ano 2018”, daquela modalidade pela Confederação do Desporto de Portugal.

Nas Tropas Paraquedistas especializou-se na Área Aeroterrestre, tendo obtido as qualificações de Paraquedista Militar, Instrutor de Paraquedismo, Precursor Aeroterrestre, Queda-Livre Operacional, Chefe de Salto de Abertura Manual e Instrutor de Queda-Livre Operacional.

Teixeira Correia

(jornalista)


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