Carlos Simão: Ex-guarda-redes “preso pelas malhas” do Covid 19


Foi jogador de futebol, depois dedicou à agricultura, mais tarde treinador, tendo comandado o Desportivo de Beja na II Liga, substituindo José Torres. Depois do futebol, dedicou à hotelaria e hoje trabalha para a Família Luzia.

Nome: Carlos Simão

Idade: 60 anos/ Profissão: Operador caixa em gasolineira

Residência: Beja

Durante três décadas viveu o futebol na liberdade do retângulo de jogo, pelado ou relvado, primeiro como guarda-redes e depois como treinador, hoje vive “preso pelas mealhas” do Covid-19, atrás de um vidro onde atende os clientes.

Carlos Simão, operador de caixa de uma gasolineira, em Beja, passou a conviver com uma realidade com que nunca se tinha deparado no campo desportivo, onde sempre teve liberdade de movimentos. “É muito complicado. Para mim que sempre fui uma pessoa muito sociável, ter que falar com os amigos, separados por uma barreira de vidro. É um momento novo para o qual não estávamos preparados”, justificou.

A trabalhar há cerca de três anos para a Família Luzia, e quando “a malta da bola” soube que Simão estava naquela local passaram e ir ao espaço. “Myster sai uma bica. É como muitos pedem o café da manhã. Mesmo com pouco tempo, trocávamos dois dedos de conversa sobre o futebol, mas agora não pode ser por causa das restrições”, diz o antigo homem do futebol. “Tive uma pastelaria durante vinte anos junto ao Mercado Municipal, mas com o seu definhamento decidi alugar o espaço, depois de um convite do amigo e cliente José Luzia, onde me sinto como mais um da família”, lembra.

Guarda-redes de excelentes recursos, Simão deu nas vistas e fez testes no Benfica, clube com o qual assinou contrato mas acabou por emprestado a outros emblemas. Profissional durante cinco anos no Ginásio de Alcobaça, Nazarenos e Fafe, após colocar termo à carreira de guarda-redes, dedicou-se à agricultura na companhia do cunhado e do sogro na aldeia de Santa Vitória (Beja). “As campanhas do trigo eram muito duras. Dormíamos duas/ três horas e as filas de tratores nos silos para entregar o trigo eram arrasadoras”, mas não se mostra arrependido de ter sido agricultor.

Mais tarde enveredou pela vida de treinador, tendo treinado diversos clubes no distrito, mas é na temporada de 1995/96 que assume o maior desafio. “Fui adjunto de José Torres, o “Bom Gigante”, no Desportivo de Beja a disputar a antiga Divisão de Honra (atual 2ª Liga) e depois da sua saída tomou conta da equipa durante catorze jornadas até ser rendido por Joaquim Meirim”, lembrando com agrado essa temporada que o leva a comprar o espaço onde criou a pastelaria.

Carlos Simão é irmão de José Romão, antigo selecionador nacional de Sub21 dos tempos de Ronaldo, Quaresma, Meireles, Postiga e tantos outros, além de ter treinado em Portugal clubes como o Chaves, Alverca, Académica. “O meu irmão convidou-me para trabalhar com ele, mas nunca aceitei”, remata.

Regressando aos dias da crise e às restrições por causa do coronavírus, o “Myster” revela que “contatar com as pessoas através de um vidro, é mais stressante e pesa mãos do que o trabalho. Sinto-me preso nas malhas, não da baliza, mas do Covid-109”, justifica.

Teixeira Correia

(jornalista)


Share This Post On
468x60.jpg