O Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) devolveu à vida selvagem 21 exemplares juvenis da espécie Tartaranhão-caçador (Circus pygarus), no âmbito do Plano de Emergência para a Recuperação da espécie por estar em risco desde 2021.
Esta é uma espécie migradora que nidifica em Portugal, sendo a região do Alentejo uma das mais importantes para a sua reprodução.
Em 2011, na Zona de Proteção Especial de Castro Verde, foi estimada a presença de 214 casais reprodutores da espécie Tartaranhão-caçador. Em 2021, na mesma área, foi registada a presença de apenas 50 casais, de acordo com dados do Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF).
“Estes valores indicam um decréscimo do número de casais em Portugal de aproximadamente 75% nos últimos 10 anos, que atinge os 85% no Alentejo. Neste período, assistimos à alteração das culturas e práticas agrícolas e pecuárias, aliado também à maior frequência de secas, que estão a provocar um declínio muito acentuado da espécie, que poderá significar o seu desaparecimento em Portugal”, explica o ICNF em comunicado.
Foi devido a esta situação crítica da espécie que se iniciou o Plano de Emergência para a Recuperação do Tartaranhão-caçador em Portugal, coordenado pelo ICNF. O objetivo é evitar a extinção desta espécie em Portugal, através da incubação ex-situ (fora do meio natural) dos ovos para assegurar a sua sobrevivência e aumentar o número de juvenis que ingressam na população em meio selvagem.
“O plano de emergência teve início no mês de março com a prospeção e localização de colónias e ninhos em áreas de produção de feno por parte do CIBIO/BIOPOLIS – Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos”, afirma o ICNF. Acrescenta que a escolha desta data coincide com a nidificação da Águia-caçadeira, uma espécie que põe em risco os ovos, crias e, por vezes, adultos Tartaranhão-caçador. Olga Martins, diretora do ICNF no Alentejo, aponta também que “no momento em que um adulto desta espécie abandona os ninhos, deixando lá os ovos, não vai voltar”.
O processo de resgate da espécie
Em março, os ovos foram alvo de uma monitorização constante de forma a que a incubação se realizasse com uma temperatura e humidade adequadas e se maximizasse o sucesso da eclosão. “Após o nascimento, no mesmo centro, iniciou-se o processo de alimentação das crias que se realizou em ciclos de quatro a cinco refeições diárias em ambiente climatizado até poderem ser transferidos para as instalações de aclimatação ao habitat natural (“hacking”)”, explica o ICNF.
Foi por essa razão que as instalações, na Herdade do Vale Gonçalinho, propriedade da Liga Para a Proteção da Natureza (LPN) em Castro Verde, foram construídas especificamente para este fim em meio natural. As primeiras crias foram transferidas para este local em junho, com aproximadamente 30 dias, para que fossem sendo preparadas para a sua devolução à natureza, que aconteceu na terça-feira com sucesso.
“Temos planeado devolver outros oito exemplares em breve e calculamos que, no fim do ano, 30 tartaranhões-caçador voltem à vida selvagem”, refere Olga Martins. Acrescenta que este será um processo contínuo e que o Plano vai continuar a trabalhar com diferentes entidades para salvar a espécie. “É uma espécie que está em perigo de extinção”, concluiu.
Um plano com diversas colaborações
O Plano de Emergência para a Recuperação do Tartaranhão-caçador foi coordenado pelo ICNF, em colaboração com a LPN e o projeto “Searas com Biodiversidade: Salvemos a Águia Caçadeira”. Este projeto inclui outras entidades, como a CIBIO/BIOPOLIS, a ANPOC – Associação Nacional de Produtores de Cereais, a Palombar – Conservação da Natureza e do Património Rural, a Sociedade para os Estudo das Aves (SPEA) e pelo Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos (CIBIO).
Para este resultado, o ICNF acrescenta que foi igualmente essencial o apoio de diversas entidades, como empresas, agricultores e cidadãos. “Os agricultores, em particular, foram essenciais. Apesar de terem tido uma produção muito baixa nestes anos, um fator que tivemos sempre em conta quando eles nos auxiliavam, eles tentaram sempre ceifar longe dos ninhos. Além disso, também telefonavam-nos quando encontravam ninhos nas suas terras”, afirma Olga Martins.
Notícia: JN/ Lidador Notícias
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