José Jorge Cameira: “Um contador de vivências e factos reais da vida”.
Pela sua frontalidade, por nunca deixar nada por dizer, José Jorge Cameira, é o tipo de pessoa que ou se gosta ou se odeia, não há terceira opção. Define-se como um homem “cem por cento honesto e defensor da verdade. Nunca abdiquei desses valores. Se vendesse as minhas opções eram um tipo cheio de dinheiro”, diz com um brilho nos olhos.
Nome: José Jorge Cameira, Idade: 72 anos
Profissão: Bancário reformado
Residência: Beja
Da então Lourenço Marques, capital de Moçambique, onde nasceu, à recôndita aldeia de Vale da Senhora da Póvoa, no concelho de Penamacor, onde cresceu, até à distante e pacata cidade de Beja, onde cumpriu tropa e acabou por se radicar, criar família e onde nasceram os seus três filhos, Cameira viveu momentos que partilha em livros e páginas do facebook.
Do Vale da Senhora da Póvoa, nome do seu primeiro livro editado em finais de 2018, ficam-lhe as memórias de “uma aldeia da idade média onde no início dos anos 50 não havia luz”, acrescentando que fez a quarta classe na escola junto “a um dos lugares mais funestos da ditadura por onde passou Zeca Afonso”, lembra. Em 1936, o General Carmona criou em Penamacor, a Primeira Companhia Disciplinar, para onde eram deportados os jovens em idade militar opositores ao regime. E é essa vivência que o marca para sempre.
Depois de passar por Mafra e por Lamego, o Exército “leva” José Cameira para a capital do Baixo Alentejo, onde há 50 anos se tornou “Cidadão de Beja”, lembra a sorrir, por ter mais uma estória para contar. “Fazia 22 anos a 12 de abril e apresentei no Regimento de Infantaria 3, somente seis dias depois. Queriam prender-me como desertor”, recorda.
“Comandei pelotões só com militares alentejanos e foi com eles que aprendi a minha primeira grande lição de cultura e de vivência de um povo, que nunca mais abandonei”. Depois do 25 de abril e no tempo das chamadas rádios-piratas, José Cameira está ligado à fundação da Rádio Voz de Beja, que depois veio a abandonar por “não ter filiação política, fui deixado de lado”, remata.
“Escritor ? Não. Considero-me um contador de vivências. Antes de morrer quero deixar um legado às gerações futuras, para que conheçam a vida nas nossas terras e das nossas gentes”.
No livro “Vale da Senhora da Póvoa, Penamacor”, conta que todas as privações que viveu: “alimentação deficiente, ausência de eletricidade, água canalizada e sanitários”. Depois surge “o meu Baixo Alentejo”, este de fotografias de grandes belezas naturais que ao longo dos anos captou na região e são o reflexo da sua sensibilidade.
Também o covid-19, influenciou a publicação do terceiro livro, que acredita poder ser publicado até final de agosto. “São estórias verídicas da nossa terra. Factos reais e inéditos que foram contados ou publicados”, revela ao LN, José Cameira.
Para gerir o seu tempo e as suas vivências, “alimenta” quatro páginas na rede social facebook. Uma sobre Penamacor, outra sobre Sabugal e uma terceira sobre Beja e o distrito, esta com mais de três mil seguidores. A quarta e de outro cariz, já ultrapassou os 8.000 aderentes e é de apoio à candidatura de Ana Gomes, à Presidência da República.
Igual a si próprio, José Cameira atira: “não sou egoísta e partilho os bons momentos e locais que acredito interessarem a todos”, justifica.
Teixeira Correia
(jornalista)