Mértola: Jovens da Guiné-Bissau e Cabo Verde, bombeiros e fãs do FCPorto e de Danilo.


Ambos nasceram em África há 27 anos, mas foi em Mértola, em 2011, que os seus caminhos e vidas se cruzaram. Mussá Embaló, nasceu em Bissau, na Guiné-Bissau e Odair Gomes, na Cidade Velha (Praia), em Cabo Verde. À dupla junta-se Sara Fernandes, namorada de Odair.

Na “Vila Museu” Mussá (à esquerda na foto) e Odair (à direita) tiraram os cursos na Escola Profissional “AL-SUD”, enquanto estudavam, de noite frequentaram nos Bombeiros Voluntários de Mértola e concluíram com êxito o curso. Mais tarde, a falta de saída profissional levou a que passassem a ser assalariados da corporação, estando já integrados no Quadro, como bombeiros de 3ª classe.

Mas a ligação mais forte é o futebol e o azul e branco. Ambos são adeptos do Futebol Clube do Porto e têm o mesmo ídolo, o guineense Danilo Pereira, o médio da equipa da Invicta e da Seleção Nacional. O grande sonho da vida dos dois jovens africanos é o mesmo: “assistir a um jogo do Porto, no Estádio do Dragão”.

Mussá, que traduzido para português significa Moisés, foi o primeiro a chegar a Portugal. Corria o ano de 2008 e ao abrigo do Programa de Reagrupamento Familiar, veio para a Damaia (Amadora) com mais dois irmãos para se juntar ao pai. Mas a vida madrasta, já que dois meses o progenitor morre, ficando só com os irmãos, o que o leva a abandonar a escola.

Mais tarde começa a trabalhar como ajudante de carpinteiro e a estudar de noite para certificar o 12º ano. “Durante esse percurso ouvi falar de Mértola e da AL-SUD. Informei-me dos cursos e conclui que era um projeto aliciante para o meu futuro”. Em 2011 muda-se para Mértola e começa a frequentar o curso de Técnico de Proteção Civil, que termina com êxito tal como o de bombeiro. E é aqui que se cruza com os seus amigos cabo-verdianos.

Odair Gomes chega a Mértola, tal como Sara, incluindo num grupo de 12 estudantes, ao abrigo de um protocolo entre a AL-SUD e o Governo de Cabo Verde, com uma bolsa de estudo, enquanto que a escola suportava a alimentação e a dormida. Odair e Sara conhecem-se nas provas de seleção realizadas na Praia.

Tal como Mussá, também Odair segue o mesmo percurso. Frequenta e termina o Técnico de Apoio à Infância e de noite concluem o curso de bombeiro.

Odair é atualmente o defesa-central da equipa do Guadiana de Mértola, ainda que de vermelho é filial dos azuis, mas do Belenenses e disputa a 1ª Divisão Distrital de Beja. Começou no Inatel, na Sanjoanense, freguesia e São João dos Caldeireiros e mais tarde veste a camisola do São Domingos, já no distrital. “Jogava a médio tal como o Danilo e sou bom de bola. Gostava de “espalhar magia” ao seu lado”, atira.

Mas como começaram a ser adeptos do F.C.Porto ?. “Estava no sangue. Os meus pais eram portistas e a zona da cidade onde morava era o reduto do Porto. Quando fui a Cabo Verde levei uma camisola”, diz orgulhoso. “O meu grande sonho era ver um jogo ao vivo no Dragão, com cachecol, boné e bandeira. Se me oferecessem uma camisola era o “midjor” (o máximo)”, conclui Odair.

Mussá, de uma grande família de oito irmãos sempre esteve rodeado de azul e branco. “O meu pai era um portista ferrenho. Toda a família era do Porto, só um tio degenerou, era benfiquista”, recorda. Há quatro anos foi visitar uma prima a Gaia e pediu-lhe para “me levar a conhecer o Estádio do Dragão. Não entrei, mas fiquei muito feliz, agora sonho ver um jogo”, remata. Só jogou futebol de rua em Bissau e de olhos brilhantes Mussá recorda: “era bom de bola e chamavam-me Deco”, atira.

O final da etapa da Volta ao Alentejo em Bicicleta foi nas imediações do quartel dos bombeiros e os dos portistas conseguiram dois bidons da equipa W52/FCPorto, “foi fenomenal”, revelaram.

Agora esperam o convite do FCPorto para, na companhia de Sara, irem ao Estádio do Dragão, a direção da Associação Humanitária dos Bombeiros de Mértola garante o transporte.

Sara Fernandes: Namorada de portista, não tem clube, mas gosta de futebol.

Vinda de Cabo Verde, chegou a Mértola com Odair, com que namora há cinco anos. Sara Fernandes, 26 anos, natural da Cidade da Praia, concluiu na Escola Profissional AL-SUD, o curso de Técnica de Gestão Cinegética, frequentou também o curso de bombeiro e pertence ao Quadro da corporação.

Sem preferência clubista, a jovem diz que “não gosto de jogar, mas adoro ver futebol. Nunca vi um jogo ao vivo, só pela televisão. Adorava estar num estádio a viver uma emoção única”, lembrado que “é no bar do bombeiros e com os meus companheiros de trabalho que vibro com o futebol”, e revela que já viram a bola “a comer cachupa”, conclui.

Sara revela que na Cidade da Praia, “as simpatias vão para outros clubes que não o Porto”, lembrando que é “uma situação estranha na Cidade Velha existirem tantos adeptos portistas”, justifica.

Quando instada sobre se Odair a pode convencer a ser adepta do FCPorto, Sara solta uma gargalhada: “gostamos um do outro, mas respeitamos as ideias de cada um”, acrescentando que “seria um sonho bonito ele jogar com a camisola do clube que sente e vive”, remata.

Nascida perto do mar e a viver perto do Guadiana, a jovem cabo-verdiana confessa que “não sou adepta de nadar no rio”, justificando que foram “muito bem recebidos na vila e na corporação” sustentando que apesar das saudades da família “o futuro pode passar por Mértola”, concluiu.

José Palma, Comandante dos Bombeiros de Mértola.

“Muitos competentes, cumpridores, sempre disponíveis e bem integrados no grupo de trabalho. Serem adeptos do FCPorto ?. Nada do outro mundo, também há do Benfica e do Sporting. A bola não interfere no trabalho”.

Teixeira Correia

(jornalista)


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