O presépio “Do lixo faço arte” irradiou a luz ontem ao final da tarde. É a sexta vez que Mértola recebe a obra que já ultrapassou as fronteiras do concelho. Da autoria de António Costa, pode ser visto até 6 de janeiro.
“Do lixo faço arte” é o título do presépio inaugurado na tarde desta quarta-feira, em Mértola, da autoria do artista autodidata António Costa, conhecido como Toy Costa, calceteiro e pedreiro da Câmara Municipal e que pode ser visto até ao próximo dia 6 de janeiro. A obra é dedicada ao filho Ricardo que morreu atropelado no dia 19 de novembro de 2020.
A exposição está patente na Tenda Multiusos, com uma área de 250 metros quadrados, transformada num espaço circulante cheio de magia e encanto, composto por 53 imagens em tamanho real. Desde o Menino Jesus, José e Maria, são adorados pelos três Reis Magos, aos anjos, os pastores e os seus rebanhos, templos, imperadores e soldados romanos à gente do povo, faz deste presépio, uma viagem única e original pela quadra natalícia.
Todas as figuras e cenários são feitos com materiais recicláveis, como tecidos, papel e objetos cerâmicos que António Costa vai recolhendo junto aos contentores do lixo ou nas lixeiras. Para dar vida aos seus personagens, o artista recicla motores de eletrodomésticos. De toda esta envolvente nasceu o nome “Do lixo faço arte”.
A ideia de construir a cena mais icónica do Natal, nasceu em 2001, quando numa viagem da autarquia visitou o Vaticano e viu um presépio que nunca mais lhe saiu da cabeça. Desde 2014 em que António Costa expôs pela primeira a obra na rua na sua terra natal, Moreanes, concelho de Mértola, só o ano passado, devido à pandemia, é que o presépio não foi construído. Das 7 imagens no ano de estreia, em 2015 a cifra aumentou para trinta e em 2019 teve 46 figuras, para este ano passar a barreira da meia centena. A primeira edição em espaço fechado ocorreu em 2016.
A inauguração decorreu sob uma forte emoção, tendo em conta a morte do filho, Ricardo de 18 anos, em meados de novembro do ano passado, atropelado por um automóvel, enquanto corria numa estrada municipal. Visivelmente emocionado, não contendo as lágrimas, o artista disse aos muitos mertolenses que ocorreram a Tenda Multiusos: “dedico este presépio ao meu filho Ricardo. Foi em ti que encontrei a força e coragem para seguir em frente. Onde estás, sei que sentes orgulho do pai”.
O presidente da Câmara de Mértola, considerou que “esta é uma obra feita com grande carinho que já ultrapassou as fronteiras da vila e do concelho”, lembrando Mário Tomé que António Costa e a família viviam “um dia doloroso quando se recorda a perda de um filho”, pedindo a todos os presentes para passarem a palavras e fazer do presépio “uma homenagem à vida”, concluiu.
O presépio “Do lixo faço arte” pode ser visitado todos os dias até 6 de janeiro, das 10,00 às 13,00 e das 14,00 às 19,00 horas e as entradas são gratuitas.
Teixeira Correia
(jornalista)