O FURTO NO RETALHO


O presente artigo tem como objetivo abordar o fenómeno do furto no retalho, nomeadamente o furto em lojas e supermercados, que representa um problema que afeta os retalhistas em todo o mundo, não sendo Portugal exceção, cujas causas são diversas e as suas consequências representam elevados prejuízos para os retalhistas.

Rogério Copeto

Coronel da GNR

Mestre em Direito e Segurança e Auditor de Segurança Interna

Não é a primeira fez que escrevo sobre este assunto, tendo tido a oportunidade de abordar o fenómeno do furto no retalho, no artigo com o titulo “O Furto nos supermercados” em 10 de novembro de 2015, por motivo da noticia divulgada pelo Dinheiro Vivo, com o título ”Furtos no comércio equivalem a 16 euros por português”, de 4 de novembro de 2015, que dava conta das conclusões do “Barómetro Global do Furto no Retalho 2014-2015”, onde era referido que os prejuízos em resultado de furtos representavam 52% das perdas, isto é, quase 157 milhões de euros, o equivalente a 16 euros por português, encontrando-se Portugal, na altura, na 6ª posição dos países onde menos se furta no retalho.

Numa pesquisa na internet constata-se que depois de 2015 não existe mais nenhuma noticia referente à realidade portuguesa sobre o fenómeno do furto no retalho, sendo no entanto um assunto que preocupa a generalidade dos países anglo-saxónicos, onde os Estados Unidos se apresentam como os mais preocupados, divulgando anualmente vários estudos, sendo o “Retail Security Survey – 2023” o mais recente e o que mais aprofunda o furto no retalho naquele pais.

O referido relatório apresenta os resultados da realidade estadunidense sobre a segurança no retalho no ano de 2023, contento as respostas de 177 empresas, que faturaram um total de 1,6 triliões de dólares (1,5 biliões de euros) em 2022 e representam mais de 97.000 espaços comerciais nos Estados Unidos, cobrindo 28 setores de retalho diferentes, que tendo em conta o total de vendas em 2022, as perdas representaram 112,1 biliões de dólares (102 mil milhões de euros), acima dos 93,9 biliões (85 mil milhões de euros) em 2021, onde o furto é responsável por quase dois terços (65%) dos prejuízos, podendo nalguns sectores representar mais de 70% dos prejuízos totais.

É verdade que a realidade portuguesa estará muito longe da realidade estadunidense e provavelmente continuamos a estar bem classificados no raking dos países onde menos se furta no retalho, apesar do crime de furto representar 26,3% de todos os crimes denunciados às Forças de Segurança (FS) e ser o crime com maior expressão na categoria dos crimes contra a propriedade, conforme consta no “Relatório Anual de Segurança Interna 2022” (RASI 2022), onde os furtos no retalho incluídos no tipo de crime “Furto em edifício comercial ou industrial sem arrombamento, escalamento ou chave falsa” teve um aumento de 39,2% entre 2021 e 2022, com um total de 7.096 furtos, ocupando o quarto lugar no crimes que mais subiram em 2022, a seguir ao tráfico de estupefacientes, à condução em estado de embriaguez e ao furto de oportunidade.

Verifica-se assim que o furto no retalho não se encontra autonomizado no RASI 2022, conforme estão outros tipo de crime, nem se conhecem os prejuízos resultantes deste tipo de crime, presumindo-se que também terão aumentado, representando em 2022 um valor superior aos 157 milhões de euros de 2014-2015, no entanto o furto no retalho merece por parte das FS uma atenção especial no âmbito da sua prevenção e combate, operacionalizando o programa “Comércio Seguro”, criado na década de 90 do século passado, sendo uns dos principais motivos pelo qual este tipo de crime não representará a expressão que é apresentado noutros países.

Por isso a Guarda Nacional Republicana (GNR), dando cumprimento aos objetivos do programa “Comércio Seguro” iniciou na última sexta-feira, dia 24 de novembro a operação “Comércio Seguro 2023” que decorrerá até ao dia 31 de dezembro, promovendo ações de sensibilização e o reforço de patrulhamento nas zonas de comércio, com o objetivo de garantir a segurança dos comerciantes e clientes, fruto do aumento de fluxo de pessoas em espaços e áreas de comércio, característico desta época do ano, associada ao maior consumismo por parte dos portugueses.

No que diz respeito à caracterização do fenómeno do furto no retalho, este tem várias causas, onde a motivação financeira é uma dessas causas, tendo em conta que os furtos resultam de dificuldades financeiras, desemprego ou outras necessidades dos seus autores, sendo a ocasião ou oportunidade outra causa, porque os espaços comerciais frequentemente enfrentam desafios na vigilância dos seus artigos, criando oportunidades para furtos. Também a pressão dos pares se pode identificar como causa do furto no retalho, porque os autores do furto são motivados pela influência de terceiros para praticar este tipo de crime.

As consequências também são várias, sendo o prejuízo financeiro a  mais gravosa, porque da prática do furto no retalho resulta perdas significativas nos retalhistas, afetando os lucros e a sua capacidade de crescimento, sendo outra consequência os riscos para a segurança dos clientes e retalhistas, nomeadamente devido às situações de flagrante delito, de onde resultam situações que poderão criar situações de perigo para funcionários e clientes, sendo outra das consequências o aumento dos preços, para compensar os prejuízos, prejudicando-se assim os consumidores.

Para prevenir o furto no retalho os retalhistas têm várias opções, sendo a videovigilância a que melhor serve, porque funciona como dissuasor, identifica comportamentos suspeitos e as imagens podem ser usadas como prova, também uma formação adequada a todos os funcionários, especialmente aos que têm na segurança a principal tarefa é uma medida necessária e imprescindível, para que todos tenham conhecimento como devem atuar antes, durante e depois de um furto.

Para além disso, pequenos pormenores podem fazer toda a diferença na prevenção dos furtos, nomeadamente a localização das caixas registadoras, que devem estar próximas da saída, permitindo que os funcionários respondam mais rapidamente, bem como a localização dos artigos de maior valor, que devem estar localizados na linha de vista dos funcionários.

Também se possível os artigos de maior valor devem ter alarmes antifurto, por serem dissuasores, mas o que é imprescindível em todos os espaços comerciais é a instalação de um alarme de intrusão.

Estes e outros conselhos podem ser encontrados na página da GNR na área dos Programas Especiais, podendo-se resumir que a prevenção e o combate ao furto no retalho é um desafio complexo, que requer uma abordagem multifacetada e constante cooperação entre os retalhistas e as FS, assumindo-se o programa “Comércio Seguro” como o instrumento que mais contribui, para que Portugal, seja um dos países onde menos se furta no retalho, sendo no entanto necessários estudos mais atualizados, podendo as FS assumir esta responsabilidade de análise mais profunda do fenómeno do furto no retalho.


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