O MÉTODO LOVERBOY E A EXPLORAÇÃO SEXUAL


Para assinalar o “Dia Internacional para a Eliminação da Violência Contra as Mulheres”, que se comemora no próximo dia 25 de novembro, propomo-nos dar a conhecer um modus operandi, que não sendo novo, é presentemente a maior ameaça à segurança de milhares de jovens mulheres em todo o mundo, não estando Portugal imune a este fenómeno denominado “LoverBoy” e que apenas agora começou a ganhar a consciência pública.

Rogério Copeto

Coronel da GNR

Mestre em Direito e Segurança e Auditor de Segurança Interna  

Qualquer situação de violência praticada contra as mulheres é uma violação dos direitos humanos, sendo uma consequência da discriminação contra as mulheres e das persistentes desigualdades entre homens e mulheres, impedindo o progresso em muitas áreas, tendo este assunto já sido aqui abordado por várias ocasiões, cuja a última foi em abril deste ano, no artigo denominado “Violência doméstica: a nossa sina”, pretendendo com isto contribuir para a prevenção e combate de toda e qualquer violência contra as mulheres.

Por esse motivo, damos hoje a conhecer o método “Loverboy”, que não é mais, do que uma forma de exploração sexual e escravidão, em que indivíduos do sexo masculino, estabelecem relacionamentos afetivos falsos com o intuito de explorar financeiramente as suas supostas namoradas, geralmente mulheres jovens, quase sempre em situação de vulnerabilidade, seja por condição económica frágil, carência afetiva ou outra qualquer vulnerabilidade individual.

Apesar do nome, não há nada de sentimental na forma como os “Loverboys” operam, que basicamente se constituem como traficantes de seres humanos e que usam o afeto como arma para atrair as suas vítimas, escolhendo como alvo mulheres e raparigas jovens, vulneráveis ​​e impressionáveis.

Estes criminosos no início têm como principal arma a sedução, enchendo os seus alvos de elogios, fazendo-as sentir-se atraentes e até amadas, passando depois a outro nível, onde são utilizadas técnicas de condicionamento operante, recorrendo ao reforço e à punição de determinados comportamentos das vítimas, com o objetivo de controle psicológico sobre as mesmas.

Assim que as vítimas tenham desenvolvido uma ligação emocional com os traficantes, são manipuladas ou forçadas a realizar trabalho sexual, cujas consequências mais gravosas são o transporte para outro país, longe de qualquer rede de apoio possível de familiares e amigos, onde se tornarão totalmente dependentes dos seus traficantes, altura em que a fachada de “Loverboy” é totalmente abandonada, com as vítimas frequentemente espancadas, mantidas prisioneiras e forçadas a prostituírem-se.

Se no passado a prostituição era o destino destas mulheres, mais recentemente o objetivo dos “Loverboys” é a exploração sexual nas plataformas online para adultos, especialmente o “OnlyFans”, que permite aos seus utilizadores criarem e partilharem conteúdos pornográficos exclusivos, destinados a assinantes pagantes, sendo este negócio do sexo online considerado como sendo uma das indústrias mais lucrativas existentes atualmente, pelo que à medida que a indústria adulta continua a crescer, não é surpreendente que este fenómeno criminoso esteja crescer em todo o mundo, não sendo Portugal exceção.

A participação no “OnlyFans” ou noutra rede social deverá ser uma escolha consensual e legítima para as mulheres adultas, no entanto quando essa participação envolve coação e exploração através do método “Loverboy”, estamos perante uma atividade criminosa e que deverá ser combatida e investigada, pelo que a exposição e a partilha de conteúdos pornográficos, nestas plataformas online associadas ao método “Loverboy”, representam atualmente dois dos fenómenos, que põem em destaque as complexidades e desafios em torno da exploração sexual e da indústria do entretenimento adulto.

As consequências, que resultam da prática desta atividade, para as vítimas são profundas, abrangendo desde danos psicológicos até físicos, além do impacto a longo prazo na sua autonomia e bem-estar, cuja prevenção deste tipo de exploração requer uma abordagem multifacetada, incluindo educação sobre relacionamentos saudáveis, conscientização sobre os sinais de exploração e o fortalecimento da resiliência emocional das jovens mulheres.

Por isso, verifica-se que as autoridades em vários países de toda a Europa estão conscientes do problema há muito tempo, sendo a Roménia o país que mais tem sido afetado pelos criminosos que utilizam estes métodos de controlo das mulheres para exploração sexual, existindo numerosos relatos de jovens mulheres estudantes que foram assediadas por potenciais “Loverboys” que ao conseguirem os seus intentos, acabaram forçadas ao trabalho sexual e sujeitas a uma exploração extenuante, muitas vezes noutros países como o Reino Unido, onde entre abril de 2018 e dezembro de 2020, foram identificadas mais de 6.000 vítimas de tráfico sexual no Reino Unido.

Também em Portugal os crimes sexuais preocupam as autoridades policiais, conforme noticiou o JN em 16 de novembro, no artigo com o titulo “Crimes sexuais fazem nove vítimas todos os dias. Mais de 74% são crianças”, onde é referido que “nos primeiros nove meses deste ano, a Polícia Judiciária (PJ) sinalizou quase 2.500 vítimas de crimes sexuais. Mais de 74% são menores. Todos os dias, há nove rapazes, mas sobretudo meninas, sujeitos a abuso sexual ou pornografia e homens, mas principalmente mulheres, violadas e alvo de coação e importunação sexual”, sendo os agressores por abuso sexual de crianças e os suspeitos de violação quase todos do sexo masculino, representando 96% e 98% respetivamente, de um total de 4.300 agressores investigados pela PJ, nos últimos dez anos.  

Provavelmente algum ou alguns destes crimes sexuais investigados pela PJ, foi praticado pelo método  “Loverboy”, presumindo-se que um dos maiores entraves à investigação deste tipo de crime é as vítimas se recusaram a testemunhar contra os suspeitos, por continuarem debaixo do controlo dos criminosos, chegando a manifestar que tudo foi consensual, esperando-se que, com a crescente sensibilização para este tipo de métodos utilizados pelos criminosos, mais mulheres e raparigas sejam capazes de identificar precocemente o risco que correm e protegerem-se, denunciando toda e qualquer atividade que possa ser associada ao crime de exploração sexual através do método “Loverboy”.

O combate ao método “Loverboy” exige assim uma estreita cooperação entre diversas áreas da sociedade, incluindo as Forças e Serviços de Segurança (FSS), onde uma rigorosa investigação dos casos suspeitos, a proteção das vítimas e a colaboração com organizações especializadas, assumem um importante papel, sendo a sensibilização de toda a comunidade e a implementação de políticas públicas eficazes e cruciais para enfrentar este complexo fenómeno.

E sendo a denuncia o primeiro passo para o combate deste tipo de crime, indicamos a forma como qualquer pessoa pode fazer uma participação, sem ter de sair de casa, devendo para isso recorrer ao portal da “Queixa  Eletrónica”.

Terminamos dando conta das diversas iniciativas que estão agendadas para assinalar este ano o “Dia Internacional para a Eliminação da Violência Contra as Mulheres”, conforme é divulgado na página da Comissão para a Cidadania e a Igualdade de Género, onde constam mais de cinco dezenas de iniciativas de vários tipos, que convidamos a conhecer e a participar, desconhecendo no entanto se alguma irá abordar o método “Loverboy” na exploração sexual de mulheres.


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