Póvoa S.Miguel/Moura: Ex-eleito do Chega acusado de homicídio tentado de estrangeiros.


Um antigo eleito do partido Chega na Junta de Freguesia de Póvoa de São Miguel, no concelho de Moura, foi acusado pelo Ministério Público (MP) e vai ser julgado por um Coletivo de Juízes no Tribunal de Beja, por um crime de homicídio simples, na forma tentada, com recurso a arma de fogo.

Segundo o despacho de acusação do Ministério Público (MP) de Moura a que o Lidador Notícias teve acesso, no dia 8 de outubro de 2021, Vítor Ramalho, de 56 anos, eleito nas autárquicas de 26 de setembro de 2021, fez dois disparos contra uma família sueca, o primeiro na Póvoa de São Miguel e o segundo em Amareleja, para onde o condutor fugiu com medo. O arguido renunciou ao cargo treze dias depois dos acontecimentos.

Na acusação o MP justifica que a Polícia Judiciária “concluiu da investigação feita que o arguido incorreu na prática de nove crimes de homicídio qualificado na forma tentada”, no entanto, sustenta ter existido “insuficiência de indícios quanto ao número de crimes” e considerou que o arguido estava indiciado de um único crime e, mesmo esse na forma simples.

A investigação da PJ apurou que em resultado dos dois disparos efetuados pelo arguido, “o veículo do ofendido apresentava um orifício de 0,3 centímetros de diâmetros e várias marcas típicas de disparos com cartucho de cumbo de caçadeira”, mas que nenhum passageiro foi ferido. O ofendido, era um cidadão, de 41 anos, natural do Curdistão, com passaporte da Suécia.

Na altura da detenção, a PJ revelou em comunicado que as vítimas eram “um casal de cidadãos suecos e sete filhos menores, com idades entre os 11 anos e os 3 meses” e que os disparos terão sido feitos “aparentemente por ódio racial”, mas a acusação do MP não faz qualquer referência a esses factos.

Apesar de ser titular de cartão europeu de arma de fogo, possuir licença de uso e porte de arma e ter todas as armas legalizadas, um mês depois de ter sido presente a um Juiz de Instrução Criminal, no Tribunal de Moura, para primeiro interrogatório e, ter ficado em liberdade, o arguido vendeu as 13 armas de fogo que possuía, a um armeiro, em Monte Trigo, concelho de Portel.

Treze dias depois de efetuada a venda, os inspetores da PJ apreenderam todas as armas e os respetivos livretes que estavam na posse do armeiro e o cartão e licenças que estavam com o arguido, tendo também ficado impedido de contatar a família e utilizar armas de fogo.

Vítor Ramalho, que era o número três da lista do Chega na Junta de Freguesia de Póvoa de São Miguel e que viria a ser eleito, renunciou ao cargo somente no dia 21 de outubro de 2021, ou seja, treze dias após a efetivação dos disparos contra a família sueca, que havia quatro dias que estava na localidade a viver numa caravana.

Reação de André Ventura

Na altura dos acontecimentos o líder do Chega foi confrontado com a situação, tendo condenado a prática de “quaisquer crimes que envolvam ataques contra a vida ou integridade física”, de qualquer ser humano, assegurando que o partido não defende “o ódio racial”.

Teixeira Correia

(jornalista)

Foto: Paulo Spranger (Global Imagens)


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