Serpa: A luz que mudou a vida na Serra.


Seis dezenas de moradores desfrutam da chegada da eletricidade que lhes mudou a vida pessoal e profissional.

Dependiam de geradores, baterias, placas solares, mas agora basta carregar no interruptor para terem energia elétrica nas habitações, oficinas, salas de ordenha ou nos estábulos. É assim há cerca de 10 meses em 25 montes e explorações agrícolas localizadas na “Serra de Serpa”. Na primeira fase, há cerca de década e meia, com um investimento total do Estado, foram eletrificadas mais de 200 habitações e explorações.

Hoje, nas duas dezenas e meia de locais isolados nas zonas da Neta e Pulo do Lobo, naquele concelho da margem esquerda do rio Guadiana, situações como conservar alimentos, ver televisão, carregar o telemóvel ou instalar uma máquina de ordenhar ovinos são possíveis depois do trabalho da Associação de Moradores da Neta e Pulo do Lobo (AMNPL). Foram quatro anos de persistência perante a EDP Distribuição (agora E-Redes) e do Governo, com o apoio da Câmara de Serpa, lembra Joaquim Falé, presidente da associação.

Meter luz na Serra de Serpa custou cerca de meio milhão de euros, suportados em 85% pela E-Redes e os restantes 15% pela Câmara de Serpa e moradores abrangidos pela eletrificação. Cada proprietário gastou cerca de 2000 euros.

António Alves, 78 anos, vice-presidente da associação, deixou a serra aos 16 anos para rumar ao Barreiro. Há 10 anos regressou à terra que o viu nascer. “Reformei-me e reconstrui o monte que era do meu avô. Vivo ao ar puro e trato dos animais que vou criando”, conta para justificar a importância de ter eletricidade no lugar. “Faz toda a diferença, mas ainda falta a água de Alqueva. Bebemos dos furos artesianos. Se há seca ou avaria nas bombas, morremos à sede. Nós e os animais”, remata.

O presidente da associação, Joaquim Falé, 62 anos, funcionário público aposentado, tem outra história. Vivia no Seixal e há sete anos comprou um monte e rumou à serra. “Tenho uma exploração agrícola e uma horta, é aqui que quero viver feliz o resto dos meus dias”.

Manuel Mateus, 75 anos, antigo empregado da Lisnave, deixou a Grande Lisboa há poucos meses para rumar a Pulo do Lobo, “à minha terra”. Recuperou uma casa antiga que pertencia à família para viver “longe do bulício da cidade”. Apesar da chegada da luz elétrica, ainda vai aproveitando as baterias e a energia solar.

Raul Afonso, de 54 anos, e a mulher, Irene Palma, são mais felizes desde a chegada da eletricidade à casa que era do avô e à exploração de ovelhas de leite. “Antes os geradores trabalhavam quase as 24 horas. Em gasóleo a despesa mensal era de 350 euros. A eletricidade permite-nos dormir mais descansados”, diz o também presidente da Assembleia Geral da AMNPL. “No último Verão já houve cerveja e água fresca no frigorífico”, diz Irene.

No dia da inauguração da segunda fase da eletrificação, Tomé Pires, o então presidente da Câmara de Serpa, mostrou-se esperançado que a eletrificação crie “novas potencialidades para o território”.

A terceira e última fase de eletrificação da Serra de Serpa está em marcha. O processo, que já deu entrada na E-Redes e na Câmara de Serpa, vai beneficiar as restantes quatro dezenas de moradores.

Teixeira Correia

(jornalista)


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