Castro Verde é o infiltrado entre os 20 concelhos com maior poder de compra em Portugal. Ombreia com as capitais de distrito e os grandes municípios do Porto e de Lisboa e do Algarve, superando até Beja e a média nacional (que é de 100) com um índice de poder de compra de 105,97 (semelhando ao de Almada e superior a Braga e a Setúbal).
Apesar da existência da Reserva da Biosfera, muito rica em fauna e flora, ficar no seu território, conhecido como “Campo Branco”, a maior riqueza do concelho de Castro Verde fica no subsolo a mais de mil metros de profundidade, na mina de Neves-Corvo que consiste numa exploração subterrânea, com cinco jazigos de sulfuretos maciços: Neves, Corvo, Graça, Zambujal e Lombador.
A mina explora um jazigo de cobre e estanho situado nos Municípios de Castro Verde e Almodôvar, que foi classificado como um dos mais ricos do mundo, integrado na margem Sul da Faixa Piritosa Ibérica.
Em 24 de Julho de 1980, foi formada a Sociedade Mineira de Neves-Corvo, conhecida como Somincor. A exploração dos depósitos iniciou-se em 1988, como parte de uma joint-venture entre o governo português e a multinacional Rio Tinto. Em 1989 iniciou-se a produção de cobre, e no ano seguinte a de estanho. Para um transporte mais rápido e eficaz, em 1992 a Somincor contruiu uma linha de caminho-de-ferro entre a estação de Ourique e Neves-Corvo.
Em dezembro de 2024, a Lundin Mining anunciou que a mina de Neves-Corvo tinha sido vendida à empresa sueca Bolinden, por um valor de 1,44 mil milhões de euros e, de acordo com um relatório publicado pela empresa, em 2025 a produção de cobre e zinco aumentou na mina no segundo trimestre desse ano em relação ao ano anterior.
A abertura de Neves-Corvo teve um forte impacto económico em Castro Verde e concelhos vizinhos, nomeadamente Almodôvar, uma vez que permitiu gerar emprego em municípios onde existia pouca diversidade profissional.
A empresa tem cerca de 1500 trabalhadores internos e outros tantos ligados a empreiteiros e a laborar a tempo inteiro, estimando que gere ainda 5 mil postos de trabalho induzidos, operando 24 horas por dia, sete dias por semana, durante todo o ano.
António José Brito, presidente da Câmara de Castro Verde, fala dessa realidade: “esta situação resulta, fundamentalmente, do expressivo quadro de emprego bem renumerado proporcionado pela atividade mineira”, acrescentando que “o valor médio dos salários na mina de Neves-Corvo é relevante e, naturalmente, isso cria esta situação bastante diferenciadora”, justificou
O autarca admite que “não ignoramos que se trata de valor médio dos salários mas, é algo bom para as pessoas e para a economia local, mas também tem algumas adversidades”, contrapondo que “o mercado da habitação, seja na venda de lotes ou no arrendamento de casas, está bastante inflacionado e essa situação não é alheia a isso”, concluiu.
Ainda assim o edil mostra-se satisfeito com os valores dos salários no concelho, justificando que “seja como for, assumimos que é algo importante e positivo para o concelho e para a generalidade das pessoas, com impacto positivo no comércio local e no quadro geral da economia do concelho”, rematou.
O Lidador Notícias (LN) apurou que o mercado da habitação é muito inflacionado pelo aluguer de casas e apartamentos por empresas prestadoras de serviços na mina e que trazem trabalhadores de fora da região e que necessitam de uma residência. Uma fonte disse que: “não há muito tempo um apartamento T4 foi alugado por 2.500 euros”, justificou.
Um dos casos que ilustra o emprego bem remunerado é espelhado por Pedro Barão (ao centro na foto com dois filhos), de 37 anos, residente em Almodôvar, que na mina de Neves-Corvo tem a companhia de três filhos: Afonso, de 29 anos, Rodrigo, de 25 e Lucas, de 20, “só o meu Carlinhos, que tem 12 anos, não trabalha na mina, mas um dia lá chegaram”, revelou.
Sempre alegre e bem-disposto, “Catatóia”, como é conhecido pelos amigos, celebrou no passado dia 7 de setembro, 30 anos que labora debaixo do chão e diz com orgulho: “Mineiro uma vez. Mineiro para sempre”.
“Trabalho entre 1.000 a 1.500 de profundidade, descendo vários patamares, é uma profissão arriscada, mas é bem remunerada. O meu vencimento base é de 1.650 euros/mês e com o subsídio de refeição, de turno e de laboração contínua, significa um valor entre 2.500 a 3.000 euros/mês”, justifica.
Pedro sustenta que o trabalho no fundo da mina “é muito difícil, mas não há grandes opções e depois é tudo à base de ordenados mínimos”, justificando que encara a vida de mineiro baseada em três erres: “Respeito, Responsabilidade e Resiliência”. Respeito, por estar debaixo da terra, Responsabilidade, garantindo a minha segurança e dos meus colegas e Resiliência, por saber que apesar de não ver a luz do dia, sou bem remunerado”, remata.
Das estradas, como ciclista profissional, para Neves-Corvo, como mineiro.
Em julho de 2022, Daniel Mestre, o alentejano de Almodôvar, casado, pai de um casal, terminou uma carreira de catorze anos como ciclista profissional, tendo passado a trabalhar como mecânico de bicicletas em Faro, cidade onde residia.
“O baixo vencimento e o custo de vida levaram-me a repensar a vida familiar e há dois anos que trabalho na mina de Neves-Corvo. Além do vencimento ser superior, o custo médio de vida é muito inferior ao do Algarve”, revelou. Aos 37 anos vendeu a casa em Faro, comprou uma habitação em Santa Clara-a-Nova, concelho de Almodôvar, e todos os dias, no trajeto casa-trabalho-casa, percorre 50 quilómetros.
O antigo ciclista refere que “o trabalho é desgastante, mas também o era e muito em cima de uma bicicleta, nem as pessoas imaginam. Na mina o vencimento é atrativo e com um bom salário, podemos aspirar a ter saúde para desfrutar de uma reforma antecipada”, concluiu o alentejano.
O poder económico da mina relevante nas receitas da autarquia
Para se perceber o volume de dinheiro que a mina Neves-Corvo movimenta damos como exemplo cobranças de Derrama efetuadas pelo Município de Castro Verde fez, mas que a Autoridade Tributária (AT) considerou como indevidas e que originou a devolução de mais de 2,5 milhões de euros.
Numa reunião realizada em Lisboa, no dia 15 de setembro de 2020, com o Secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, Dr. António Mendes, o Presidente da Câmara Municipal de Castro Verde informou o Governo que, até aquela data, a AT, com as suas várias correções e acertos, já obrigou o Município a devolver um total 2.164.022,07 euros desde 2017.
Dias antes, António José Brito, presidente da autarquia, tinha manifestado ao Ministério das Finanças o seu total descontentamento com uma nova retenção da receita da Derrama, num valor que ascende a € 486.487,25, correspondente ao ano de 2008.
Odemira o contraponto: maior território, mais trabalhadores, menos salários.
É o maior Município de Portugal, com um total de 1.720 kms/2 e é também um dos poucos do interior cuja população cresceu entre 2011/2021, com mais 13,3%, tendo um total de 29 538 habitantes, mas Odemira é também o único em que o valor mediano do rendimento líquido por pessoa baixou em 2023, comparativamente ao ano anterior. Os trabalhadores viram os seus rendimentos baixar 0,3%, menos 36 euros, naquele período temporal, tendo passado de 13.063 euros/ano para 13.027 euros.
Hélder Guerreiro, presidente da Câmara de Odemira, começou por referir que “não é uma fatalidade. Já identificámos que o Município tem crescido em termos de produção de riqueza na área de turismo e agricultura e esses sectores são onde tradicionalmente se pagam menores salários”, concluiu.
“Falta um segundo sector que não temos. Falo da indústria transformada e ou da indústria especifica, como a mineira, onde se pagam salários elevados, que não temos. É uma questão identificada e assumida desde o início do mandato”, rematou.
Teixeira Correia
(jornalista)


