Nas últimas décadas, Portugal tem sido repetidamente confrontado com catástrofes naturais que colocam à prova a resiliência das suas comunidades e a eficácia do sistema de Proteção Civil, sejam incêndios florestais devastadores, inundações repentinas ou fenómenos meteorológicos extremos, que se tornaram mais frequentes e intensos, fruto das alterações climáticas e da vulnerabilidade estrutural de vastas áreas do território, cuja questão que se coloca é simples, mas incómoda: estamos preparados?
Coronel da GNR, Mestre em Direito e Segurança e Auditor de Segurança Interna
Dirigente da Associação Nacional de Oficiais da Guarda
Os incêndios florestais continuam a ser a maior ameaça sazonal, apesar dos avanços na prevenção e no combate, cada verão traz consigo a memória de tragédias passadas, onde a falta de gestão florestal, o abandono rural e a dispersão do povoamento agravam a intensidade dos fogos e cujo esforço heroico dos combatentes e das populações, é incontestável, mas frequentemente feito com meios limitados e sob condições de risco extremo, devendo a prevenção ser a pedra basilar da estratégia, continuando, no entanto, a ser insuficiente.
Mas o desafio não se resume ao fogo, também as inundações urbanas e rurais, provocadas por chuvas intensas e fenómenos extremos cada vez mais comuns, expõem as deficiências na gestão do território, na manutenção das linhas de água e na falta de planeamento urbano adequado, sendo sempre as populações mais vulneráveis as mais atingidas, e muitas vezes sem planos claros de evacuação ou apoio logístico imediato.
Perante estas realidades, a coordenação entre Forças de Segurança, Bombeiros, Autoridades Locais e Organismos Centrais é determinante, continuando, no entanto, a haver falhas na comunicação e duplicação de esforços, sabendo que em situações de crise, a rapidez e clareza da resposta fazem a diferença entre salvar ou perder vidas, e onde a fragmentação institucional e a burocracia excessiva comprometem essa eficácia.
É fundamental investir em planos de evacuação claros, testados e comunicados às populações, onde a informação de emergência não pode ser apenas um exercício técnico em gabinetes, tem de chegar de forma simples e prática às pessoas que estão em zonas de risco, pelo que a Proteção Civil deve ser também uma cultura cidadã, ensinada nas escolas, praticada em exercícios comunitários e encarada como responsabilidade partilhada.
Ao mesmo tempo, a aposta em tecnologia e ciência é inadiável, através se sistemas de alerta precoce, cartografia de risco atualizada, drones para vigilância e monitorização, inteligência artificial aplicada à previsão de fenómenos extremos, sabendo que tudo isto são ferramentas que já existem e precisam de ser integradas no modelo português, permanecendo de meras intenções, se não existir investimento político e orçamental consistente.
Concluindo, a Proteção Civil não pode ser um assunto sazonal, lembrado apenas no verão ou quando a catástrofe já bateu à porta, é um pilar essencial da Segurança Interna e da coesão social, necessitando Portugal de um modelo robusto, baseado em prevenção, coordenação eficaz e cultura de resiliência, porque catástrofes haverá sempre, sendo que o que faz a diferença é a forma como nos preparamos para elas.
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