Abusos na Igreja: Bispo de Beja pede perdão pela deceção que as suas palavras causaram.


D.João Marcos retrata-se das anteriores palavras onde justifica que “dei a entender que subestimo a enorme gravidade dos abusos sexuais de menores e que o perdão de Deus permite ao abusador retomar a sua vida normal como se nada tivesse acontecido”, defendendo agora todo o contrário daquilo que disse.

“Compreendo a deceção que provoquei dentro e fora da Igreja e a todos peço perdão”, referiu o Bispo de Beja num comunicado que emitiu ontem ao final da tarde e que foi lido na manhã deste domingo pelo Padre António Novais, pároco de Beja e diretor do jornal católico “Notícias de Beja”, durante a missa celebrada na Sé Catedral da cidade.

João Marcos referia-se à entrevista dada na passada terça-feira, sobre os casos dos abusos sexuais no seio da Igreja Católica, onde defendeu os padres e os leigos denunciados, sustentando que “todos somos pecadores, todos somos limitados, todos temos falhas. Esta maneira de abordar não é muito católica. Na Igreja Católica existe o perdão”.

No documento o Bispo começa por se retratar da entrevista dada a um canal televisivo onde referiu que “Deus perdoa a todo aquele que se arrepende e repara os danos causados pelo mal que praticou, justificando que “por meu desacerto no modo e na oportunidade do que disse, de nenhum modo é esse o meu pensamento”, disse.

Segundo apurou o Lidador Notícias (LN) junto de fonte ligada à Diocese de Beja, que “há cinco padres acusados de pedofilia”, não tendo sido possível saber quem e onde estavam colocados esses sacerdotes, num Patriarcado que inclui os 14 concelhos do distrito de Beja, mais os quatro do Litoral Alentejano, pertencentes ao distrito de Setúbal.

Face à controvérsia das suas palavras o Bispo entendeu clarificar o seu pensamento, reconhecendo que “ao abusos de menores são da máxima gravidade, os seus efeitos devastadores e se praticados por homens dedicados a Deus, são ainda mais graves e são uma blasfémia”, defendendo agora que “não há lugar para os abusadores no sacerdócio e que as suspeitas verosímeis obrigam a tomar medidas que evitem todo o perigo sobre os membros, incluindo o afastamento das tarefas pastorais”, concluiu.

Ao contrário do perdão inicial que defendeu, João Marcos é agora paladino de que a investigação “deve ser rápida e seguir as regras claras definidas pelo Papa Francisco. Deve ser cumprida plenamente a lei civil e penal”, acrescentando a terminar que “as pessoas que passaram por uma situação de abuso têm que ser uma prioridade, As suas necessidades de apoio e reparação devem nortear o nosso acompanhamento”, rematou.

Durante a homilia e antes de ler o comunicado do Bispo, sem se referir ao caso dos abusos sexuais no seio da Igreja Católica, o Padre Novais tinha referido que “Cristo ofereceu a água límpida e no poço foi encontrada água que todos os dias não é mais límpida. É preciso muitas vezes escavar o fundo do poço das nossas fraquezas ir bem ao fundo da criação humana. Os poços devemos, limpá-los, destapá-los, para que toquem os nossos corações e corram límpidos”, concluiu.

À saída da missa celebrada na Sé Catedral de Beja, onde não marcou presença o Bispo de Beja, um católico que acabara de ouvir o comunicado emitido por D.João Marcos soltou a expressão: “agora já vem tarde. Muito tarde”, concluiu.

Durante a celebração, uma leitora tinha referido que “apesar de sermos católicos, estamos sujeitos à justiça dos Homens e de Deus”, numa clara alusão ao momento conturbado que se vive na Igreja Católica e em particular na Diocese de Beja.

Todos os sábados, o Bispo de Beja reza missa na Capela de Santo Estevão, que funciona como capela privativa do Paço Episcopal, mas, segundo apurou o LN, D.João Marcos não terá feito referência ao comunicado que viria a ser emitido horas mais tarde.

Teixeira Correia

(jornalista)


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