Alentejo: Rede criminosa romena liderada pelo clã Bambaloi, ganhou mais de 800 mil euros com explorados.
Mais de oitocentos mil euros, foram os valores faturados por quatro empresas angariadoras de trabalhadores romenos para a apanha da azeitona, controlados pelo clã Bambaloi, criada e liderada a partir de Vila Nova de Milfontes. Há quatro portugueses, dois em prisão preventiva e dois em liberdade, envolvidos no processos.
O clã Bambaloi de origem romena, chefiado por Victor e Antonica, marido e mulher, auxiliados por duas filhas e um filho, este fugido à justiça, e dois sobrinhos, criou e liderou, a partir de Vila Nova de Milfontes, uma rede criminosa que o Ministério Público, define como: “organizada de estrutura humana e logística estável e hierarquizada em quatro patamares, com distinção de tarefas de responsabilidades e de ganhos”.
A rede liderada pelos Bambaloi, era composto por 26 elementos, 5 dos quais mulheres, com idades entre os 20 e os 63 anos, de quatro nacionalidades. Dezoito estão em prisão preventiva, um em prisão domiciliária com pulseira eletrónica, três fugidos à justiça, com mandado de detenção europeu e quatro em liberdade, mediante termo de identidade e residência (TIR).
Cada um dos arguidos está acusado de 1 crime de associação criminosa e 35 crimes de tráfico de pessoas, e três dos acusados de 1 crime de detenção de arma proibida.
De acordo com o despacho de acusação a que o LN teve acesso, a cúpula da rede “recrutou todos os outros elementos”, entre eles, o advogado Hugo Machado, que os apoiavam “no controlo dos trabalhadores, das mulheres que eram obrigadas a enveredarem pela prostituição, na recolha de dinheiro que os explorados eram sujeitos a pagar, exercendo ainda violência física e psicológica”, num verdadeiro clima de terror.
A estrutura estava apoiada em quatro empresas, criadas pelo arguido Hugo Machado, e utilizadas como fachada, para fazer a ligação contratual com as explorações agrícolas e emissão de faturas. Segundo a investigação conseguiu apurar, que entre setembro de 2011 e 18 de novembro de 2015, data da operação “Corda Bamba” levada a cabo pela Unidade Nacional de Combate ao Terrorismo (UNCT) da Polícia Judiciária (PJ), nos concelhos de Beja, Serpa, Odemira e Torres Vedras, que levou à detenção dos Bambaloi e a maioria do grupo, as quatro empresas faturaram mais de 800 mil euros.
Quanto ao advogado Hugo Machado, a investigação apurou que este “levantou diversos cheques” passados a duas das empresas dos romenos, mas que lhe foram endossados, no valor superior a 23 mil euros.
Os inspetores da UNCT apuraram ainda que após a detenção dos arguidos, o advogado conseguiu uma procuração de uma das cidadãs romenas acusadas, uma procuração, que lhe concedia plenos diretos para tratar de qualquer assunto. Em face disso diz a acusação que Hugo Machado contatou proprietários de explorações agrícolas que deviam verbas à empresa em causa e recebeu através de transferência bancária mais de 13.400 euros.
Morte suspeita
Nas diligências realizadas pela PJ, em setembro de 2015, dois meses antes das detenções, aparece a morte do romeno Iliuta Bonculesco, que segundo os investigadores “não foi cabalmente esclarecida a forma como caiu das escadas de acesso ao apartamento onde vivia e faleceu. Aquando da busca domiciliária ao escritório do advogado Hugo Machado, em Beja, a PJ encontrou um papel manuscrito que referia que “Yordan e Mustafa fugiram no carro quando Iliuta morreu”.
O inquérito, do qual foram extraídas diversas certidões, deram origem a outros processos, nomeadamente de lenocínio.
Situação judicial da rede
Prisão preventiva: 12 romenos, 4 búlgaros e 2 português, de Beja e Serpa, entre os quais o advogado. Prisão domiciliária: 1 búlgaro. Fuga à justiça: 3 romenos. TIR: 2 portugueses, de Cabeça Gorda/ Beja e Serpa, 1 ucraniano e 1 romeno.
Penas de prisão
Crime de associação criminosa: Líderes do grupo (Victor e Antonica): 2 a 8 anos de prisão. Restantes arguidos: 1 a 5 anos de prisão.
Tráfico de pessoas: 3 a 10 anos de prisão, agravadas de um terço (acusados de 35 crimes).
Teixeira Correia
(jornalista)