Beja: Prisão preventiva para seis cidadãos romenos por tráfico de pessoas.


Ficaram em prisão preventiva os seis cidadãos romenos, cinco homens e uma mulher, detidos pelo SEF por tráfico de pessoas. Fora  ouvidos para “memória futura” 24 trabalhadores explorados.

Seis horas depois de terem dado entrada no Estabelecimento Prisional de Beja (EPBeja), em prisão preventiva, os seis indivíduos de nacionalidade romena, regressaram ontem ao DIAP de Évora, onde 24 dos 255 indivíduos identificados, como explorados pela rede, prestaram declarações para memória futura.

Presentes a primeiro interrogatório na tarde de quinta-feira, os seis detidos, cinco homens e uma mulher, com idades compreendidas entre os 22 e os 47 anos, conheceram às 23,50 horas que a medida de coação a que ficavam sujeitos era a mais gravosa, a privação de liberdade.

As duas dúzias de cidadãos de leste que foram ouvidos no DIAP, são aqueles estavam em situação de maior fragilidade e que “apresentavam maiores indícios de serem vítimas de exploração e visa também consolidar a acusação”, disse ao LN fonte do SEF, que acrescentou que “as autoridades vão procurar encaminhar estas pessoas para instituições, por forma a garantir ajuda humanitária”, justificaram.

A mesma fonte acrescentou que “os tradutores explicaram aos cidadãos o que se passa, uma vez que não têm consciência de que são explorados”, em face da legislação portuguesa.

Mais de duas centenas de cidadãos romenos e moldavos que trabalham para aquele que é tido como o cabecilha da rede, um romeno de nome Florin, concentraram-se junto ao DIAP, para demonstrar solidariedade “para com o patrão” (ver rodapé).

A operação “Masline”, foi a maior realizada pelo SEF no combate ao tráfico de seres humanos, foi desencadeada na passada terça-feira nas zonas de Beja, Ferreira do Alentejo e Montes Velhos (Aljustrel), e levou à detenção dos cinco homens e a uma mulher, que são suspeitos do tráfico de pessoas, auxílio à emigração ilegal e associação de auxílio à imigração ilegal. O SEF envolveu 141 operacionais, e deu cumprimento a 6 mandados de detenção, 8 de busca domiciliária, 2 de busca a escritório e 12 para apreensão de viaturas, na sua maioria ligeiros de passageiros, topo de gama.

Na tarde de quinta-feira, a Direção Central de Investigação do SEF congelou a Florin uma conta bancária no valor de 135.000 euros. Durante a investigação o Ministério Público vai desenvolver outras diligências tendentes a apurar qual o património da rede de escravatura no distrito de Beja, podendo vir a ser congeladas mais algumas, das cerca de dezena e meia de contas do cidadão e de outros da sua confiança que também estão detidos.

Recorde-se que a rede recrutava os trabalhadores nos países de origem, aliciando com melhores condições de vida, mas chegados a Portugal, ficavam sem os documentos e eram obrigados a trabalhar sem receberem qualquer vencimento, dormindo amontoados em habitações sem condições.

Os seis presos, são representados por um único advogado, Manuel Belchior de Sousa, com escritório em Ferreira do Alentejo e tido como um perito na tipologia de crimes em causa, conheceram perto da meia-noite de quinta-feira as medidas de coação, tendo recolhido ao Estabelecimento Prisional de Beja (EPBeja) cerca das 02,00 horas.

Agora os cinco homens aguardarão julgamento no EPBeja, enquanto a mulher será levada para a cadeia feminina de Odemira.

Concentração de solidariedade

Cerca de duas centenas de romenos e moldavos compareceram junto ao DIAP, numa “manifestação espontânea” de solidariedade para com Florin, um dos detidos e tido pelo SEF, como o cérebro da organização.

Roman e Mariana Peren (Moldávia. Marido e mulher, ele 45 e ela 41 anos)

“Estamos em Odivelas (Ferreira do Alentejo) há seis meses e temos sido sempre bem tratados. Recebemos 600/ 700 euros por mês e pagamos 50 euros de casa. Estamos 3/ 4 pessoas na habitação, com boas condições. O Florin tem sido um excelente patrão., se precisávamos de um adiantamento ele dava e descontava no final do mês”.

Pavel Frunze (Moldávia. 62 anos)

“Trabalhos seis dias por semana, oito horas por dia. Estamos legais, temos passaportes europeus. Não percebemos porque foi o Florin preso. Com ele na prisão vamos ficar sem trabalho. Estamos aqui para que libertem os patrões”.

Teixeira Correia

(jornalista)

Fotos: Ana Luísa Delgado


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