Beja: Teófilo Piçarra, o cobrador sem fraque.
Há 35 anos que cobra quotas de diversas instituições da cidade. A CerciBeja é uma das instituições que mais respeita e pela qual se sente respeitado. A sua personalidades e educação permitem-lhe ainda receber quotização de pessoas já falecidas.
Cobrador de quotas, natural e residente em Beja
O fecho da empresa onde trabalhava atirou-o para o desemprego e, abriu-lhe uma “janela de oportunidade” que nunca tinha imaginado, começando a calcorrear as ruas de Beja, que ninguém conhece melhor.
Há 35 anos que Teófilo Piçarra, é cobrador de quotas de dez associações sociais e desportivas. O seu cavalheirismo permite-lhe cobrar quotas a senhoras, cujos maridos já faleceram. Nas horas vagas já teve tempo e vontade para cantar no Coro de Câmara da cidade.
A necessidade de ganhar o sustento para a família, por ter faltado o emprego, levou a aceitar um convite de um amigo da CerciBeja para cobrar a quotização da instituição. “Vivi dias conturbados quando um dos maiores empregadores do concelho, uma moderna recauchutagem, fechou”, recorda o homem que toda a gente trata por Piçarra.
Além da Cerci, tem a seu cargo a quotização dos Dadores de Sangue, Bombeiros, Liga dos Amigos do Hospital e Coro de Câmara, e os principais clubes desportivos da cidade, Despertar, Desportivo, Zona Azul, Bairro da Conceição e Casa do Benfica.
Como divide este “imbróglio” de quotas ?. “É fácil. Tenho quatro livros, que correspondem à divisão geográfica da cidade, segundo as juntas de freguesia. Tenho um dia certo para cada ronda e um dia para “voltar” aos incontactáveis”, mas o sábado e o domingo também contam, “não descuido a cobrança”, justifica.
Entre as várias coletividades Teófilo Piçarra recebe dinheiro de cerca de 6.000 sócios, justificando que “houve um decréscimo no associativismo de 20%”, revelando que a cobrança anual “ronda os 50.000 euros”, remata.
Vive das comissões das quotas, que variam entre os 10 e os 30%, conforme os casos. “Há uma instituição que é especial, a CerciBeja. Nunca lhes pedi aumento de percentagem, mas há muitos anos que têm um gesto nobre comigo, pagam-me os subsídios de Férias e Natal”, conclui.
A confiança das instituições no cobrador é tão grande que faz os depósitos na sua conta bancária e duas vezes por mês entrega o dinheiro cobrado. “Desconto as respetivas percentagens e entrego o restante. Nunca me faltou um tostão, tenho um controle rigoroso”, justifica.
É verdade que cobra quotas de pessoas já falecidas ?. “É com emoção que muitas senhoras continuam a pagar as quotas dos falecidos maridos, nomeadamente nos casos das instituições sociais. Sente-se o respeito pelas causas e o gesto de felicidade para com o companheiro que já partiu”, conta feliz. “Tenho um sócio a quem chamo o “campeão”. O senhor José Serrano, paga mensalmente 11 quotas que lhe custam quase 20 euros. É um cliente especial. Está jubilado e tenho em atenção a data de recebimento da reforma”, diz.
Além do filho, da mulher e do trabalho, Teófilo Piçarra tem outra paixão “o meu Benfica de quem sou sócio há mais de 25 anos”, e quando questionado se vai ser campeão, atira: “sou campeão todos os dias no meu trabalho”.
Teixeira Correia
(jornalista)