Cerveja: Dona da Sagres vendia 20% mais caro aos distribuidores exclusivos que aos hipers


Relatório de perícia pedido pelo Tribunal de Beja releva que a política de preços da Sociedade Central de Cervejas e Bebidas “contribuiu decisivamente para retirar competitividade aos distribuidores”. Julgamento começou na sexta-feira.

Segundo o “Dinheiro Vivo”, distribuidores pedem mais de 1,3 milhões de indemnização. Mais de 9 horas foi quanto durou no Tribunal de Beja a primeira sessão de julgamento do processo de um antigo distribuidor independente da Sociedade Central de Cervejas e Bebidas (SCC) na região do Alentejo.

A Carlos Romero Lda pede uma indemnização de 1,313 milhões de euros pela cessação unilateral do contrato que os unia à cervejeira há décadas. A segunda sessão já tem data marcada: 9 de maio. Processo de 2,8 milhões, envolvendo outro pequeno distribuidor independente do Alentejo, aguarda julgamento. A dona da Sagres não comenta.

“É nossa política não comentar processos administrativos ou judiciais designadamente quando envolve relações comerciais”, reage Nuno Pinto Magalhães, diretor de comunicação e relações institucionais da SCC.

O caso, cujo julgamento arrancou na sexta-feira, 26 de abril, com a audição de quatro de um total de nove testemunhas arroladas pelo distribuidor independente, remonta a janeiro de 2017, altura em que a SCC informou que, a partir de maio, a distribuição nas zonas de Serpa, Moura, Barrancos e Mértola, até então a cargo da Carlos Romero Lda, passaria a ser assegurada pela Novadis, a distribuidora da cervejeira controlada pela Heineken.

Em 95 dias, a Carlos Romero Lda perdeu um contrato que valia 65% da sua faturação. Em 2016, o último ano completo do contrato com a cervejeira, a distribuidora independente faturava 2,2 milhões de euros. Agora “estamos sujeitos a fechar portas”, lamenta Carlos Romero, sócio-gerente. “Ainda estamos a operar, mas não na distribuição de bebidas”, conta, explicando que, para compensar a perda de negócio, expandiram a distribuição a outros produtos, como congelados. Mas as receitas estão longe de compensar a perda sofrida com o fim do contrato com a SCC, empresa da qual foram distribuidores exclusivos na região durante 18 anos, assegurando a entrega das cervejas Sagres e das águas Luso, entre outros produtos do portefólio da cervejeira.

Preços 20% superiores à grande distribuição

O fim do contrato resultou em significativas perdas de receita, mas o relatório de perícia pedido pelo Tribunal de Beja, a que o Dinheiro Vivo teve acesso, dá conta que há vários anos que o pequeno distribuidor vinha a perder competitividade e a SCC “contribuiu decisivamente” para essa situação. Motivo? A diferença de preços praticados pela cervejeira entre os clientes diretos, como hipers e supermercados, e os pequenos distribuidores independentes exclusivos. No caso das cervejas, essa diferença chegou a ser superior a 30% e, no caso das água, a atingir mais de 50%, sobretudo, entre 2012 e 2015.

Em 2013, a dona da Heineken criou a sua própria empresa de distribuição, a Novadis (na foto armazém de Beja), que hoje a assegura a distribuição no canal Horeca (hotéis, restaurantes e cafés) em 65% do país.


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