O Bispo D.João Marcos diz que não há lugar a reversão da doação do terreno, porque a certidão é clara sobre a mesma: “pura e irreversível” e que uma pessoa falecida não pode receber um bem de volta.
O Lidador Notícias (LN) publicou ontem uma entrevista com Francisco Cruz Martins, um dos filhos do casal que em 1963 doou o terreno, com muito mais do que 1 hectare, para construção do Carmelo de Beja, que encerrou no passado dia 27 de setembro de 2022, com a saída das duas últimas Irmãs Carmelitas.
O herdeiro de Maria Benedita e Francisco Cruz Martins, advogado de profissão, assegurou que “ou regressam as irmãs carmelitas ou a Igreja devolve o Carmelo à nossa família. Ou fazem-no a bem ou fazem-no em tribunal”, avisou.
Ontem de visita à Base Aérea 11, em Beja, para a apresentação da nova aeronave Embraer KC-390, D.João Marcos foi abordado pelo LN sobre a polémica do encerramento e protestos que envolvem o Carmelo do Sagrado Coração de Jesus, instalado num terreno com 13.485 m2.
Colocado perante a possibilidade do recurso aos tribunais por parte dos herdeiros do casal Cruz Martins para a devolução do espaço, o bispo justificou que “recorrer ao tribunal claro que podem. No documento de doação é referido que esta é pura e irrevogável, está bastante claro”, deixando a pergunta: “como se ultrapassa o facto de quando a pessoa que deu o terreno e ajudou a construir aquele mosteiro já morreu?. Já não está cá para o receber de volta”, rematou.
Tendo como justificação “a falta de irmãs” na Comunidade Carmelita, a Diocese “executou” em 22 de outubro de 2019 o decreto de supressão que fora assinado por D.José Rodriguez Carballo, a 12 de julho, em Roma.
D.João Marcos justifica agora que “a saída já devia ter acontecido, uma vez que o documento foi assinado antes da pandemia” acrescentando que uma carta do Padre da Ordem vinda de Roma “dizia que durante a pandemia estavam libertas de sair”. O bispo rematou dizendo que as Irmãs Carmelitas “resistiram quanto puderam e só agora é que se decidiram a sair. Elas tentaram tudo para ficar”, sustentando que tudo “tem a ver com toda a história do Carmelo em Beja”, rematou.
Depois de em agosto, Inês ter sido deslocada para Sevilha, o Carmelo ficou reduzido às Irmãs Carmelitas Madalena e Luísa (à direita na foto), justificando o líder da Diocese de Beja que “as duas irmãs estavam muito idosas e muito pouco podiam fazer”, justificando que “a Luísa deixou de ser freira …. Enfim, problemas …. Ela é que punha a casa a funcionar. Uma vez que ela não era reconhecida como irmã teve que sair também”, concluiu.
O LN chegou à fala com a Irmã Luísa que apresenta uma versão diferente da referida por D.João Marcos, assegurando que: “todos os anos renovei os meus votos com o conhecimento do Senhor Bispo e da Ordem. As minhas irmãs e eu continuamos a aguardar a clarificação da situação para a minha Profissão Solene”, justificou a monja.
Colocado sobre qual o futuro a dar ao Carmelo, o eclesiástico justificou que “a família fala em reversão, mas a diocese tem todo o interesse em que o Carmelo esteja aberto. Com outra congregação ou outra ordem que se instale aqui”, acrescentando que “da parte da Ordem Carmelita há esse interesse e há essa possibilidade. Aqui há uns anos, antes de eu vir para Beja, houve a tentativa de renovar as irmãs. Aconteceu que elas não ficaram aqui”, concluiu D.João Marcos.
Recorde-se que na manhã da passada quinta-feira, os portões do Carmelo apareceram pejados de papéis em protesto contra o encerramento do espaço religioso. Nas mensagens afixadas podia, e ainda pode, ler-se, porque não foram removidos, que “foi encerrado por vontade e decisão da Santa Sé. A comunidade cristã e amigos do Carmelo estão indignados e solicitam a reabertura”.
Teixeira Correia
(jornalista)