Desporto: F.C.Serpa aposta na formação, para voltar a ser Campeão.


Futebol Clube Serpa revive grandes jogos do título Nacional de 57/57. Clube “joga” o seu futuro na formação. Oito equipas com 200 praticantes.

Nunca um jogo de futebol teve tanto significado histórico para um clube, uma cidade e um concelho, como aquele que o Futebol Clube de Serpa vai disputar frente ao Sporting da Covilhã para a 3ª eliminatória da Taça de Portugal.

Na temporada de 1956/57, a equipa serpense pontificavam o treinador húngaro Josef Fabian e os jogadores serpenses Picareta e Coureles e Manolo Vidal, o mítico dirigente do Sporting já falecido, conquistou o título de Campeão Nacional da 3ª Divisão. Dias depois desse brilhante feito, a equipa da Serra da Estrela veio a Serpa buscar o treinador e os dois jogadores alentejanos e na época seguinte conquistou o título da 2ª divisão e subiu ao escalão máximo do futebol português.

F.C.Serpa filial e equipamento à Porto.

Mas a história do emblema alentejano não se escreveu sempre de verde e branco. De acordo com uma brochura editada pelo próprio clube, em julho de 1957, para comemorar o título de Campeão Nacional, ficou a saber-se que o Futebol Clube de Serpa nasceu como filial do F.C.Porto, por influência de Luís Lobo, um homem do norte, à data vice-presidente da câmara.

No “Jornal de Serpa” numa série de artigos intitulados “Como nasceu o futebol em Serpa”, sob o pseudónimo de ANTOJA, António Jacinto Afonso, que mais tarde viria a ser um dos baluartes diretivos com clube com António “Cigarrilha” descreveu mais pormenores sobre o Futebol Clube de Serpa: “Sob o comando técnico do referido Luís Lobo, e equipando à Porto, camisola às riscas verticais, azuis e brancas e calção branco, o Serpa viria a conquistar o primeiro título de Campeão Distrital em 1947/48, três anos após a fundação”.

Em 1956/57, o F.C.Serpa Campeão Nacional da 3ª Divisão e também Distrital

Segundo a brochura editada pelo clube, há diversas referências históricas para a vida do emblema da Margem Esquerda. A primeira revela que foi em 1953/54, que “João Diogo Cano, então presidente da direção, dando mostras de verdadeiro amor ao clube e à sua terra, contratou as expensas suas, alguns jogadores, valiosos reforços, que se vieram juntar aos melhores que a equipa já possuía”.

Depois conta que nessa época o emblema serpense começou por conquistar o Título Distrital e só depois jogou a Fase Nacional, onde viria a obter a maior conquista da sua história.

No Distrital o F.C.Serpa jogou oito jogos e conseguiu outros tantos triunfos, frente ao Aljustrelense, Moura e Despertar. Na 1ª Fase do Nacional a equipa serpense jogou 10 jogos, contra o São Domingos, Aljustrelense, Lusitano de Vila Real, Lagos e Sambrazense, conseguindo 8 vitórias, 1 empate (em Vila Real de Santo António e uma derrota (3-0 em São Brás de Alportel). Na 2ª Fase, o Serpa jogou 6 jogos, tendo como adversários o Lusitano de Vila Real, Estrela de Portalegre e O Elvas, alcançando três vitória e 3 empates, todos em caso dos opositores. Seguem-se as meias finais e em dois jogos o Serpa, tendo adversário o Águia Vilafranquense, consegue dois triunfos. Na final, em Coimbra, com golos de Picareta e Teixeira da Silva, o Futebol Clube de Serpa derrota a equipa transmontana do Sport Clube de Vila Real e conquista o título da 3ª Divisão.

Josef Fabian, o treinador do título, mas não só

Foi em 1953 que rumou a Portugal e ao Sporting em 1953, mas uma grave lesão, fez com terminasse a carreira de jogador. Fabian chegou ao Futebol Clube de Serpa no início da 2ª Fase do Campeonato Nacional, a mais difícil da prova e conduziu o clube ao título.

Antes da chegada de Fabian, o emblema serpense foi treinado por Rana, antigo jogador de “O Elvas e do Benfica. O trabalhi deste último foi também de grande qualidade e não se pode dissociar do título máximo.

O “Dragão Verde”

Não há referência, se foi por influência de João Diogo Cano ou de António Jacinto Afonso, que as cores do clube passaram para verde e branco. No entanto uma carta deste último, datada de 27 de janeiro de 1955, enviada ao Clube de Futebol “Os Belenenses” e remetida a partir do Tribunal Judicial de Serpa, dá conta da ultimação do processo do antigo jogador serpense José Torrão Pires. Na missiva, para além de pedir duzentos e sessenta e sete escudos e dez centavos, por uma certidão para o Bilhete de Identidade e da Cédula do jogador, António Jacinto Afonso remata: “Aproveito o ensejo para nesta localidade me pôr à disposição do Belenenses (apesar de LEÃO), onde conto alguns amigos e dois afilhados (os irmãos Pires, que por mim foram indicados para esse clube)”. Nesta fase do clube, pode estar a explicação para a passagem do azul e branco para o verde e branco como as corres do Futebol Clube de Serpa.

A vida e história mais recente

O clube da “Cidade Branca” sempre viveu dos jogadores da sua formação (ver caixa: Xavier, Campeão do Mundo em Riade) que foram decisivos nos títulos distritais conquistados e que permitiram assumir-se como um dos clubes mais representativos do distrito. Ao longo dos anos o emblema do “Dragão Verde” sempre teve jogadores da terra como referências e o nome maior é Manuel Baião, cujo mérito foi reconhecido e imortalizado pela Câmara de Serpa que atribuiu o seu nome ao Complexo Desportivo Municipal.

Em 2018, uma convulsão interna envolvendo o treinador e alguns jogadores, deixou o clube à beira da segunda distrital, mas “o orgulho serpense foi mais forte e com o apoio de antigos jogadores e dos sócios e simpatizantes o barco não afundou nas águas do rio Guadiana”, lembra o presidente.

Com a “casa arrumada”, Francisco Picareta, chamou um antigo jogador do clube, Marco Borges, para treinar a equipa principal e depois de uma temporada atípica por causa do covid-19, “regressámos aos nacionais com muita coragem, para um mundo novo. Esta transição pode levar o clube para a estabilidade desejada”, lembrando que o Serpa “luta pela manutenção, numa 2ª fase a quatro equipas, onde jogamos seis finais”, concluiu.

Grande parte da equipa “transitou da temporada passada e muitos são os jogadores da formação. A equipa B joga na 2ª Divisão distrital e é maioritariamente composto por juniores. A dimensão, caraterização e estabilidade do clube passa por essa vertente”, recordando que esta temporada o clube tem “oito equipas, dos petizes aos seniores, com 200 atletas. Ao final do dia os dois relvados mais parecem as praias da Caparica”, atira Francisco Picareta.

Face à pandemia, o clube vive muito dos apoios da Câmara e Junta de Freguesia, a que se junta a quotização e as receitas dos jogos. “Esperamos que o regresso a uma maior normalidade permita a realização de eventos e com a abertura da sede (antiga esquadra da PSP, que pertencia à autarquia), tenhamos mais fontes de receita. Vamos lutar para que a certificação do clube passe de 2 para 3 estrelas. Temos tudo para que o Futebol Clube Serpa, seja o maior clube do Alentejo”, concluiu.

Bilhete de Identidade

Fundação: 30/06/1945. Local de jogos: Complexo Municipal Manuel Baião, em Serpa. Sócios: 350

Palmarés: Campeão Nacional da 3ª Divisão (1956/1957). Títulos na A.F.Beja: Campeão Distrital Seniores (1947/48, 1970/71, 1976/77, 1980/81, 1993/94, 97/98, 2005/06), Taça Distrito (1996/97, 2000/01 e 2011/12), Taça de Honra (1988/89), Campeão Distrital Feminino (2010/11) e Campeão Distrital de Iniciados (2001/02, 04/05

Curiosidades

Campeão Nacional 3ª Divisão

Foi há 64 anos, aconteceu na época de 1956/57 e, é o ponto mais alto da história do clube. O treinador húngaro Josef Fabian, formou um “Dream Team” que tinha por base cinco jogadores do concelho de Serpa. Foi o primeiro clube do distrito de Beja e o terceiro do Alentejo a conquistar o título.

Xavier, Campeão do Mundo em Riade

O jogador que em 1985 deixou o Serpa e rumou ao Benfica, tendo em 1989 conquistado o título mundial de Sub19 é o ponto mais notório da “cantera” serpense. Nos anos 50, Manuel Baião, Picareta e Coureles e duas décadas depois Manuel Maria, guarda-redes internacional júnior, Macarrão, Oca, Baletas, Belinha e Rações, entre outros, são símbolos da formação do clube.

Plantel

Guarda-redes: Rui Rosindo, Rui Peta e Henrique Soares. Defesas: João Veiga, David Prata, Brenner, Diogo Petiz, Rodrigo e Carlos Daniel. Médios: João Graça, André Garcias, Diogo Conceição António Infante, João Malagueta, Luís Soudo e Marquinhos. Avançados: Iaquinta, Rui Oca, Jorge Raposo, Luiz Henrique, João Miguel, José Vilão e Tiago Floreano.

Equipa técnica: Marcos Borges (treinador) Duarte Galego e Belinha Piçarra (adjuntos). Presidente: Francisco Picareta Diretor desportivo: José Fernando

Figura

Francisco Picareta (Presidente da direção, 45 anos)

Há três anos assumiu a presidência num dos momentos mais complicados da vida do F.C.Serpa. O engenheiro civil deu estabilidade ao clube, assumiu a formação como decisiva e o futuro passa por “manter a equipa no Nacional e depois subir degrau a degrau. O título de 1956/57 não será sempre uma eterna e gloriosa conquista”, refere Francisco, familiar de Picareta, que deu a maior conquista ao clube.

Teixeira Correia

(jornalista)


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