Florival Baiôa Monteiro: “O historiador que ama Beja”


O “Professor Baiôa”, como é tratado, envolveu-se nas lutas estudantis de 1969 e criou associações que defendem a história da cidade. É o rosto do muito que se defende que Beja Merece.

A sua paixão pela história, a arte e o património, poderá ficar a dever-se às bases familiares dos Baiôas, que sendo de Mértola, conhecida como “Vila Museu”, espalharam-se por Mina de São Domingos, Vila Verde de Ficalho e Beja, percorrendo a pé as antigas estradas romanas.

Filho de um afamado relojoeiro, Plácido Monteiro, também conhecido como o “Rouxinol do Guadiana, que com o poeta bejense Mário Beirão, fundou o primeiro grupo coral em Beja, Florival Baiôa, é um apaixonado por Beja, uma cidade que diz querer ver com “mais gente, mais dinamismo e com mais importância no panorama nacional”.

Cedo se envolveu nas lutas sociais e políticas, que o levaram a ser expulso do Instituto Comercial de Lisboa, durante a crise estudantil de 1969, Em 1973 desertou do Exercito Português, quando foi mobilizado para a Guerra Colonial em Angola, tendo 2 anos sido refugiado político da ONU em Bruxelas, enfrentando três mandatos de detenção e extradição da PIDE/DGS.

Regressou a Portugal, conduzindo uma velhinha carrinha R6 “com a casa em cima”, quando à chega à fronteira Badajoz/Elvas “fui informado por um militar que havia um golpe de estado e era melhor voltar atrás. Nunca mais esqueço, era o dia 11 de março de 1975 e havia um golpe do Spínola”, recorda o “professor Baiôa”, como é carinhosamente tratado.

Estudou História da Arte, na Faculdade de Letras de Lisboa, onde fez o mestrado e o doutoramento. De regresso a Beja, em conjunto com Cláudio Torres e Borges Coelho, funda o Centro de Apoio da História. Anos mais tarde, funda a Associação de Defesa do Património de Beja (AdPB), visando “a preservação do Centro Histórico que estava a ser abandonado”, lembra. Com a AdPB, são recuperadas tradições como “As Maias”, os concursos de cantares alentejanos e as mostras de doçaria tradicional e conventual da cidade.

Durante 36 anos foi professor de História, Antropologia Cultural e Organização Política, tendo lecionado em todas as escolas da cidade e também no Politécnico. Nas escolas de D.Manuel I, antiga Escola Comercial batizada com aquele nome por proposta sua, e na de Santa Maria Florival Baiôa criou um clube de jornalismo virado para os alunos, jornais que podem ser consultados no site da Biblioteca Nacional. “Saiu de la gente que hoje exercem a profissão em jornais e televisões nacionais”, diz satisfeito.

“Nunca se consegue gostar da sua terra, se não se conhecer um pouco da sua história”, justificando a paixão por Beja e a importância que a mesma teve, um vastos períodos da nossa história nomeadamente, no Romano, “construída como grande cidade e de onde ressalta o nome de Pax-Júlia”, sustenta.

A capital baixo-alentejana foi a primeira cidade portuguesa a importar azulejos de Manezes e Sevilha, em Espanha. “Fazia confusão a existência de tantos azulejos e eu não conhecer essa história”, justificando que o interesse por essa temática “levaram-me a escrever dois livros”, remata.

Em 2010 surge o Movimento Beja Merece, que procura lutar contra o desinvestimento a que a região foi vetada. No próximo dia 5 de julho é votada uma petição na Assembleia da República que “pode ser o princípio de um fim feliz. Finalmente”, conclui.

Quando se pergunta como é que o Florival vê o “professor Baiôa, atira: como um humanista, que compreende as pessoas e a comunidade e que tem o sonho de viajar durante um ano inteiro pelo Mediterrâneo para perceber a formação da nossa cultura, porque de resto já fiz tudo na ida”, afirma sorridente o homem que no passado dia 30 de maio recebeu a Medalha de Mérito Municipal-Cultural e Artística.

Teixeira Correia

(jornalista)


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