José Paixão: “A paixão pela águia Glória e pelo futebol”
Durante duas décadas, ficou conhecido nos meandros do futebol português como o “Homem da Águia”.
Nome: José Paixão, Idade: 62 anos
Profissão: Mecânico de automóveis
Residência: Beja
Primeiro com a Sara, ao longo de cinco anos e os restantes quinze com a Glória, o bejense José Paixão deu milhares de voltas ao relvado do Estádio da Luz, percorreu dezenas de Casas do Benfica e participou em diversas iniciativas solidárias.
A paixão de ir com a águia ver das bancadas os jogos do Benfica, também em casa como fora, começou depois de deixar os Paraquedistas em 1983. Mas só cinco anos depois, numa deslocação a Faro e na bancada do Estádio de São Luís foi quando o então presidente do clube, João Santos, o convidou para ir ao relvado do Estádio da Luz.
“Nem queria acreditar, quase não dormi a semana inteira. Comprei bilhete e fui pela primeira vez dar a volta ao relvado, com o Adelino Valentim, o primeiro Homem da Bandeira”, recorda José Paixão a rir. A partir daí deixou de comprar bilhete para os jogos, mas as deslocações serem foram no seu carro, com as despesas a saírem do seu bolso.
Depois começaram os convites das Casas do Benfica para terem a sua presença. “De Sagres a Miranda do Douro, da Madeira aos Açores, passei por muitos locais e ganhei muitos amigos, mas a malta da Mealhada é que sempre me tem dispensado uma consideração sem limites”, justificando que “numa ou outra deslocação pagaram a deslocação. Nunca fiz nada pelo meu interesse”, remata.
A Sara foi a primeira águia, mas através de um amigo que era cliente da empresa de automóveis onde Paixão trabalhava que lhe surgiu a oferta daquela que seria o seu grande amor, a Glória. “Foi-me oferecida em 1990 pelo antigo ministro da Agricultura, Álvaro Barreto. Fui buscá-la em bebé a um couto perto de Ourique. Criei-a e tratei-a como um filho. Viveu comigo até ao dia 21 de setembro do ano passado, quando morreu”, recorda triste.
Em 1992 um caso insólito aconteceu no velhinho Bairro Morgada da Apariça, onde José Paixão mora, envolvendo-o a ele e à águia Glória, com um cerco de militares da GNR e membros da Proteção da Natureza. “Alguém que viu a circular na Ponte 25 de Abril, com a águia no carro e fizeram uma denúncia às autoridades e um belo dia aconteceu o cerco caricato. Foi tudo esclarecido e o pássaro continuou pacato no seu espaço”, lembra a sorrir.
Mas como diz o Povo, não há bela sem senão. E em 2008, coincidindo com a chegada do espanhol Juan Barnabé, “o ambiente nunca mais foi o mesmo, surgiram as tricas e em fevereiro desse ano decidi deixar de dar a volta ao relvado com a Glória. Não fiquei magoado com o clube. Outros interesses se levantaram”, recordando “os bons momentos “ que passou com o amigo Rogério Narciso, o último porta-bandeira no Estádio da Luz.
Ainda que fervoroso adepto das “águias”, José Paixão nutre uma particular simpatia pelos “axadrezados” do Bessa, da Cidade Invicta e muitas vezes nas ruas de Beja e em eventos desportivos é vê-lo a vestir uma camisola do Boavista. “É uma forma de agradecer a forma como sempre recebido e acarinhado pelos adeptos boavisteiros. Tenho camisolas do Bosingwa, Pedro Emanuel e do meu conterrâneo Francisco Agatão que jogou no Boavista”, remata.
Esta temporada ainda não foi ao futebol e vê com preocupação o recomeço da Liga: “isto é muito estranho. A reação dos adeptos vai ditar se a prova termina ou não”, conclui.
Teixeira Correia
(jornalista)