Mértola: Assumia dupla personalidade para sacar bens a mulheres.


Primeiro como “Burlão do amor” depois como “Rambo de Mértola”. Juras de amor renderam 170 mil euros a burlão. Arguido em prisão domiciliária vai ser julgado no Tribunal de Beja.

Sedutor, conversa fácil, sempre bem vestido, carros potentes, conversas de compromisso afetivo, era assim que o “Burlão do amor” se apresentava às mulheres. Depois de ganhar a sua confiança assumia postura ameaçadora, agressiva e muito violenta o que lhe valeu a alcunha de “Rambo de Mértola”.

Com esta postura, Paulo Alexandre Santos, de 56 anos, que foi detido por inspetores da Diretoria do Sul da Polícia Judiciária (PJ) em 5 de abril do ano passado no âmbito da operação “Amores imperfeitos”, é definido como “detentor de uma personalidade extremamente violenta e manipuladora”, levou ao engano duas mulheres portuguesas, que em dinheiro vivo e transferências bancárias lhe entregaram cerca de 170.000 euros.

Na operação da PJ, que envolveu buscas domiciliárias num monte no concelho de Mértola e na habitação em São Pedro do Estoril, foram apreendidas duas armas de fogo e uma réplica, armas brancas, três cartas de condução falsas, três viaturas, duas delas da marca Jaguar, estupefacientes esteroides/anabolizantes e uma elevada quantia de dinheiro, toda em numerário.

O indivíduo que está em prisão domiciliária, foi acusado pelo Ministério Público (MP) de Beja, de sete crimes: dois de violência doméstica e um de cada um de burla informática, abuso de confiança falsificação de documento, tráfico de menor gravidade e detenção de arma proibida. O processo que visava as cartas de condução falsas foi arquivado.

Paulo Alexandre Santos primeiro cortejava as mulheres, e depois convencia-as a mudarem-se para o Monte José das Neves, freguesia de Santa de Cambas, concelho de Mértola, com a promessa de ser o local onde iam “viver uma vida em comum”. A referida propriedade estava em nome da mulher com quem estava casado, no regime de comunhão de adquiridos, mas que dela desfrutava como fosse sua. Como se tratava de um lugar longe dos olhares dos vizinhos, o arguido utilizava o local para violentar as mulheres sem ser incomodado.

A investigação começou depois da última das vítimas das diabruras do “Burlão do amor” ter fugido do monte e apresentado queixa às autoridades. Como a vítima era consumidora e dependente de cocaína, o arguido apresentou-se como sendo o seu “salvador”, e quem a iria “tirar da droga e salvar-lhe a vida”. Em junho de 2020, a mulher viu o pior do individuo quando este agiu como o “Rambo de Mértola”, tendo-a obrigou a realizar o jogo da “roleta-russa” com um revólver. O arguido colocou uma munição na câmara, forçando a mulher a girar o tambor e a premir o gatinho com a arma apontada à cabeça. Como a munição não estava colocada na câmara, a arma não disparou, tendo o homem retirado a munição do revólver e deu-a à ofendida dizendo-lhe: “guarda a bala como recordação, como prova de não teres morrido”. Esta mulher ficou sem 30.000 euros em dinheiro vivo.

A primeira vítima foi uma mulher que vivia em Bayonne, na França, desde 1982 e que a partir de setembro de 2017 passou a manter um relacionamento amoroso com o arguido. Acreditando nas suas promessas a vítima sofreu prejuízos de cerca de 140 mil euros, 55 mil dos quais destinados a “obras de reabilitação no monte” que nunca foram feitas. Em abril de 2018 a mulher sofreu um dos maiores sustos da sua conturbada relação, quando recusou entregar mais dinheiro a Paulo Gonçalves Santos. O arguido deslocou-se a França e vestindo uma farda militar, apresentou-se na residência da vítima, apontou-lhe uma pistola e disse-lhe “se não entregares o dinheiro não vais sair daqui”.

O indivíduo vai ser julgado por um Coletivo de Juízes no Tribunal de Beja no decurso do corrente mês de janeiro e arrisca uma pena efetiva de prisão superior a cinco anos.

Teixeira Correia

(jornalista)


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