Foi divulgado no dia 16 de abril o “Estudo sobre os Comportamentos de Consumo de Álcool, Tabaco, Drogas e outros Comportamentos Aditivos e Dependências – Portugal 2024 (ECATD-CAD)”, que resulta da validação 11.083 questionários preenchidos por alunos de 1.992 escolas do ensino público localizadas em todas as regiões de Portugal Continental e das Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira.
Coronel da GNR, Mestre em Direito e Segurança e Auditor de Segurança Interna
Dirigente da Associação Nacional de Oficiais da Guarda
O estudo ECATD-CAD constitui a mais abrangente radiografia do consumo de substâncias e comportamentos aditivos entre os jovens em idade escolar em Portugal, sendo realizado a cada quatro anos, apresentando o relatório de 2024 os dados recolhidos através da aplicação do questionário europeu ESPAD (European School Survey Project on Alcohol and Other Drugs), abrangendo uma amostra representativa de 11.083 alunos do ensino público, com idades entre os 13 e os 18 anos, nas várias regiões do país, marcando esta edição a primeira aplicação online do inquérito, mantendo a representatividade nacional e regional dos resultados.
Sobre o consumo de substâncias psicoativas, nomeadamente álcool, tabaco e drogas, conclui-se que o álcool permanece a substância mais consumida, com 58% dos inquiridos a relatar consumo ao longo da vida e 30% nos 30 dias anteriores à inquirição, e apesar de ilegal para menores de 18 anos, a ingestão precoce é comum, com 30% a referirem início antes dos 13 anos, onde o padrão de binge drinking (ingestão de cinco ou mais bebidas numa só ocasião), foi relatado por 17% no último mês, enquanto a embriaguez severa atingiu 6% dos alunos nesse mesmo período.
No caso do tabaco, 25% dos alunos experimentaram fumar, com 10% a relatar consumo recente, onde pela primeira vez, a experimentação de cigarros eletrónicos (18%) equiparou-se ao tabaco de combustão, embora este último ainda seja predominante entre os mais velhos, tendo a prevalência do consumo diário se mantido baixa (cerca de 2%), mas relevante entre os consumidores regulares.
Já as drogas ilícitas apresentam menor prevalência: 7% já experimentaram alguma substância, com 6% a reportarem consumo no último ano e 3% no último mês, continuando a canábis a ser a substância ilícita mais consumida, sendo o uso de outras drogas praticamente residual, no entanto, entre os consumidores atuais de canábis, cerca de 10% apresentam padrões de consumo diário ou quase diário.
No que diz respeito a medicamentos e jogos, sendo estes os novos focos de atenção, o consumo de medicamentos com efeito psicoativo também surge no radar: 8% dos alunos tomaram tranquilizantes ou sedativos com prescrição médica, enquanto 5% o fizeram sem receita e a utilização de nootrópicos (estimulantes cognitivos) e analgésicos fortes sem supervisão médica, embora menos prevalente, merece atenção por duplicar desde o último estudo em 2019.
No campo dos comportamentos aditivos sem substância, o jogo a dinheiro apresenta um crescimento expressivo, atingindo 18% dos inquiridos, cuja a prática intensiva de videojogos, sobretudo em dias sem escola, é também elevada, com 30% dos alunos a jogarem quatro ou mais horas por dia.
Já nas tendências e análises por sexo e idade, o estudo mostra uma tendência global de diminuição no consumo de substâncias psicoativas desde 2019, particularmente no álcool e no tabaco tradicional, verificando-se ainda uma inversão na prevalência do consumo de álcool entre os sexos, com as raparigas a apresentar agora maiores índices de consumo e de comportamentos de risco, nomeadamente embriaguez e binge drinking.
Verifica-se que a idade é um fator decisivo: quanto mais velhos os alunos, maior a prevalência de consumo, sendo exemplo, o consumo recente de álcool, que aumenta de 24% aos 13 anos para 79% aos 18, sendo também essa a tendência para o tabaco e a canábis.
Na perceção de acessibilidade e início precoce, verifica-se que a acessibilidade percebida continua a influenciar o consumo, sendo que mais de metade dos alunos considera fácil obter álcool, especialmente cerveja (56%), e 38% dizem o mesmo sobre tabaco, onde a canábis é vista como acessível por 17%, muito acima das outras drogas ilícitas.
O início precoce dos consumos é preocupante: quase metade dos consumidores de álcool começaram antes dos 13 anos, repetindo-se este padrão para o tabaco e, em menor escala, para a canábis e o binge drinking.
Conclui-se que o ECATD-CAD 2024 traça um retrato ambivalente: embora o consumo global de substâncias esteja a diminuir, alguns comportamentos de risco continuam presentes entre uma minoria significativa, onde a precocidade dos consumos, a ascensão de novos produtos como os cigarros eletrónicos, o aumento do jogo a dinheiro e o consumo de medicamentos sem supervisão médica são desafios emergentes, sublinhando o estudo a necessidade contínua de políticas públicas informadas, ações de prevenção e educação dirigidas especialmente aos jovens, bem como de estratégias intersectoriais que integrem saúde, educação e justiça.
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