A pandemia de covid-19 leva a que em Barrancos a “tradição já não é o que era”. Retirada da Praça a lenha do lume de Natal. Amanhã não há cantes, zambombas e catalão assado.
Por causa da pandemia do covid-19, este ano em Barrancos “a tradição já não é o que era” e, a Praça da República vai ficar vazia, a fogueira, o catalão e as zambombas não vão encher na noite de Natal dos barranquenhos.
Esta quarta-feira, a 24 horas do lume ser acesso, trabalhadores da Câmara Municipal de Barrancos retiraram a lenha, que como manda a tradição, desde o passado dia 8 de dezembro estava a ser amontada na praça central da vila raiana.
Eram 18,00 horas uma retroescavadora da edilidade barranquenha como a limpar a via pública depois do Centro de Coordenação Operacional Municipal (CCOM), ter reunido durante a tarde e “ter decidido por unanimidade cancelar o lume “, revelou em comunicado a autarquia, presidida pelo socialista, João Serranito Nunes.
No documento a edilidade acrescenta que foram atendidas as “orientações claras das autoridades (GNR), resultante de várias queixas dos munícipes”, justificando que lamenta “não ser possível a realização desta manifestação da nossa cultura, mas, importa que com um comportamento cívico ajudemos a salvaguardar qualquer hipótese de contágio”, rematam.
Em Barracos ninguém tem memória de o lume de Natal não se ter realizado. Jacinto Saramago, um dos cidadãos mais intervenientes da comunidade e responsável pelo blog “estado de Barrancos”, disse ao Lidador Notícias (LN) que é a tradição “vem de tempos imemoriais e sempre houve. Nunca foi interrompida, nem nos tempos da ditadura”, recordou.
O Natal em Barrancos é uma festa única, que junta da mesma praça que em agosto recebe os toiros de morte. Por volta das 18,00 horas do dia 24, acende-se o lume que durante até ao final da noite do Dia de Natal. A maioria dos 1.750 habitantes do concelho e da vila, juntam-se à volta da fogueira, cantando temas natalícios, no dialeto barranquenho, acompanhados pelos sons das zambombas e a assar o catalão, um enchido tradicional local.
Paredes-meias com a Extremadura espanhola e apesar dos laços comunitários e sociais entre os dois lados da fronteira, o concelho de Barrancos é atualmente o único do distrito de Beja que não tem um único infetado, e é do dois, em conjunto com Alvito, onde não ocorreu qualquer vítima mortal. Desde o início da pandemia no passado mês de março, o Município registou somente 14 casos de confirmados de covid-19.
Teixeira Correia
(jornalista)