O projeto não é novo. Comecei a trabalhar nele em 2004. Como tantas outras coisas na vida, que param, avançam, são retomadas, mudam de rumo…
Historiador
Diretor do Panteão Nacional (Lisboa)
De que se trata? De pegar nos desenhos que Duarte Darmas, por volta de 1510, fez na raia alentejana e de olhar para esses mesmos sítios, cinco séculos volvidos. O que aconteceu às torres e às muralhas? Que modificações tiveram as igrejas? Ainda existem as fontes e as pontes que ele desenhou? De que modo o crescimento das povoações foi apagando as marcas do passado? Ou, melhor, de que modo o passado se reflete nos sítios.
Duarte Darmas e o seu escudeiro percorreram toda a fronteira, registando mais de 50 localidades. Por mais de uma vez surge um autorretrato, com o desenhador do rei a cavalo e o seu escudeiro apropriadamente a pé. Transportam na mão uma lança-bitola, com a qual mediram os muros dos castelos por onde passaram.
Duarte Darmas usava um método peculiar de desenhar cada sítio (e são 20, desde Mértola, a sul, até Montalvão, no concelho de Nisa, a norte). Registava o castelo e depois escolhia um conjunto de pontos de maior importância, dentro de cada localidade. Fazia sempre duas vistas, num campo e contra-campo ao jeito cinematográfico.
As identificações nem sempre são imediatas. Há sítios relativamente fáceis, como Serpa ou como Mértola. Nem uma nem outra tiveram novos baluartes na época da Restauração. O que quer dizer que muitas das construções que representou ainda são visíveis, ainda que, quase sempre, com marcas de modificação do tempo. Noutros locais, como Campo Maior ou Castelo de Vide o trabalho de correspondência é mais difícil. Na primeira, porque as muralhas seiscentistas trouxeram grandes alterações no panorama urbano. Na segunda, porque o sistema de desenho de Duarte Darmas, por vezes pouco “ortodoxo”, criou distorções nem sempre fáceis de interpretar.
17 anos já lá vão. Este ano, lá mais para a frente, o projeto será apresentado publicamente. Haverá livro, exposição e filme: “Duarte Darmas – do cálamo ao drone”. Ao drone? Sim, essa é a chave da questão, que mais tarde explicarei. www.duartedarmas.com.
NDR: Santiago Macias passa a partir de hoje a colaborar com o Lidador Notícias com uma crónica de opinião mensal.