Opinião (Rogério Copeto, Oficial da GNR): CORTESIA AO VOLANTE PRECISA-SE.


O “Dia Mundial do Trânsito e da Cortesia ao Volante” celebra-se no próximo domingo dia 5 de maio, com o objetivo de sensibilizar todos os condutores sobre a necessidade de uma condução segura, de forma a prevenir acidentes, de proteger a sua vida e a dos restantes utilizadores das estradas.

Rogério Copeto

Tenente-Coronel da GNR

Mestre em Direito e Segurança e Auditor de Segurança Interna

Chefe da Divisão de Ensino/ Comando de Doutrina e Formação 

Por coincidência, também se comemora no próximo domingo o “Dia da mãe”, data que pretende homenagear todas as mães e serve para reforçar o amor dos filhos pelas suas mães, sendo costume oferecer-lhes presentes, em demostração do seu amor e de agradecimento.

E sendo a vida de um filho ou filha a maior oferta que se pode dar a uma mãe, o presente artigo pretende contribuir para que menos mães tenham que sofrer a perda de um filho, por motivo da sinistralidade rodoviária, tendo em conta que até 21 de abril já faleceram nas estradas de Portugal continental 137 filhos, devendo ser acrescentados mais 29 de nacionalidade alemã, que faleceram vítimas de um acidente rodoviário com um autocarro na ilha da Madeira, no dia 17 de abril e que não são contabilizados nas estatísticas oficiais da Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária (ANSR).

Não tão importante como a vida, mas também muito importante para qualquer mãe, é a educação e o comportamento que os seus filhos assumem em qualquer situação, especialmente perante a sociedade, não ficando nenhuma mãe contente e satisfeita com faltas de educação e mau comportamento, que os portugueses ainda assumem nas estradas, enquanto condutores de veículos automóveis ou peões.

Da minha experiência, enquanto utilizador das estradas e como agente fiscalizador, tenho para mim, que os fatores que mais contribuem para aumentar o risco de acidente, são o comportamento individual do condutor e o comportamento dos outros utilizadores da estrada, sendo um e outro influenciado pelas normas sociais e pela legislação rodoviária.

Nesta altura, alguns leitores poderão estar a lembrarem-se do desempenho para conduzir, e tem razão, porque sendo conceitos diferentes, o comportamento e o desempenho, ambos influenciam a condução. O primeiro é o que o condutor FAZ e o segundo é o que o condutor PODE fazer, pelo que o desempenho do condutor está relacionado com o conhecimento e habilidades para conduzir, e o comportamento é o que o condutor escolhe fazer com essas competências.

Por exemplo, a probabilidade e severidade de um acidente depende do tempo de reação do condutor, sendo isso uma competência de desempenho do condutor. No entanto, o resultado também dependerá da velocidade a que o veiculo circula. Assim as capacidades de avaliar a velocidade e de controlar o veículo a essa velocidade são aspetos do desempenho do condutor e a velocidade a que o veículo circula é uma decisão de comportamento do condutor.

A distinção entre desempenho e comportamento é fundamental para a segurança rodoviária, porque a condução automóvel é uma tarefa individual. Ou seja, os condutores escolhem o seu próprio nível de dificuldade no desempenho da tarefa de conduzir, podendo a maior habilidade não contribuir para aumentar a segurança, pois pode ser usada para aumentar a velocidade, executar ultrapassagens no limite ou falar ao telemóvel, sendo estas ações decididas pelo comportamento do condutor.

Da mesma forma, um condutor com conhecimento em condução avançada, que aprendeu o controle de derrapagens ou de travagens de emergência, pode muito bem as usar para exibição dessas técnicas numa condução agressiva, aumentando o risco de acidente, devendo por isso os condutores usar de toda a sua competência para conduzir, aumentando a sua segurança e a dos outros, tendo a noção que as suas competências diminuem, nomeadamente com o aumento da idade.

No entanto parece obvio que aumentar a habilidade dos condutores para a condução reduziria as taxas de sinistralidade, devendo-se por isso apostar na formação dos condutores, sendo aceite que condutores com maiores competências, são condutores mais seguros.

O problema é quando o condutor se acha o melhor condutor do mundo, sem possuir todas as competências para conduzir, associado essa perceção ao mau comportamento e à falta de cortesia. Não quero com esta afirmação definir o típico condutor português.

Dito isto, é fácil perceber que é necessária mais formação para os nossos condutores e a falta de cortesia e a agressividade não têm lugar nas nossas estradas, podendo alguns maus comportamentos serem punidos pelo Código da Estrada.

Por isso, ser cortês e respeitar os outros, revela-se muito importante para evitar conflitos e acidentes, que na maioria dos casos não se trata de uma mera questão de cortesia, são exigidas pelo Código da Estrada, tal como é exemplo o uso das luzes indicadoras de mudança de direção (piscas), o direito de passagem e buzinar sem motivo, tudo comportamentos que são infrações ao Código da Estrada, mas que se encontram em desuso pelos condutores portugueses.

Para além dos exemplos anteriores, a falta de cortesia manifesta-se ainda na condução colada à traseira do veículo da frente (tailgating), na ultrapassagem de ciclistas sem cumprir a distância de segurança, parar em cima da passadeira num cruzamento, etc.

Quando estiver perante este tipo de comportamentos que revelam falta de cortesia, isso pode ser indicativo de estar perante um condutor agressivo, devendo para o efeito, possibilitar a ultrapassagem do veículo que vai colado ao seu e se estiver na faixa da esquerda, passe para a faixa da direita, desde que o possa fazer com segurança (outra regra que parece estar em desuso), mantenha os olhos na estrada e não no condutor, não reaja às provocações, nomeadamente através do encadeamento pelos máximos ou através de buzinadelas.

E se alguém sair de um veículo em sua direção, mantenha-se no interior do seu, feche as janelas e tranque as portas. E se o diálogo não resolver, não responda, seja verbalmente ou com gestos, mesmo que o outro condutor começar a bater no veículo, respire fundo e saia dessa zona em segurança, conduzindo com calma para um local onde poderá obter ajuda, em caso de necessidade, como por exemplo um Posto da GNR ou Esquadra da PSP. Evite seguir para casa, porque se um condutor agressivo o seguir, não quererá que essa pessoa saiba onde você mora.

No entanto não esquecer que uma reação agressiva pode ser originada por um mau comportamento nosso, quase sempre por distração ou stress, podendo qualquer um de nós executar uma manobra menos correta.

Por isso não devemos iniciar o ato de condução quando estamos cansados, nervosos, stressados ou emocionalmente afetados, como por exemplo depois de uma discussão ou após receber uma má notícia, como por exemplo, relativa à sua saúde.

As aplicações para os smartphones podem ajudar a verificar o tráfego em tempo real, ajudando a preparar e a planear a viagem, mas sempre antes de iniciar a condução e nunca durante.

Concluindo-se assim, que cooperar com os outros condutores, como por exemplo, facilitando as ultrapassagens, fazendo uso dos piscas e ceder a passagem, significa mostrar cortesia na estrada, tratando os outros utentes da estrada com respeito e tolerância, sejam eles outros condutores, peões ou ciclistas, não esquecendo de agradecer, levantando a mão a alguém que lhe facilitou uma manobra e fazendo um gesto de desculpa quando cometer um erro, sendo que estes comportamentos ajudarão a evitar conflitos e a reduzir a sinistralidade rodoviária.


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