Opinião (Rogério Copeto/ Oficial da GNR): DESAPARECIMENTO DE IDOSOS.
Sobre o assunto do desaparecimento de idosos o Jornal de Noticias na semana passada publicou dois artigos, referindo num deles que o “Trabalho do JN apontou falhas” e que no que respeita aos idosos desaparecidos “Não se sabe quantos morrem”.
Tenente-Coronel da GNR, Mestre em Direito e Segurança e Auditor de Segurança Interna
Chefe da Divisão de Ensino/ Comando da Doutrina e Formação
Os artigos com os títulos: “Desaparecem 3500 pessoas todos os anos em Portugal” e “Desapareceram 750 idosos nos últimos três anos”, são da autoria do jornalista Nelson Morais, que solicitou dados às autoridades policiais e judiciais e ouviu diversos especialistas no assunto, tendo concluído que nem tudo está bem no que diz respeito ao fenómeno do desaparecimento de idosos.
Sobre este assunto, já tive a oportunidade de escrever por várias vezes, bem como colaborado na redacção de artigos, sobre o tema, tendo em 2012 o jornalista Alfredo Teixeira, elaborado o artigo com o título “Desaparecem mais de 150 idosos por ano e só 74 % são salvos”, e que foi publicado na edição de 2 de julho de 2012 do Diário de Noticias.
Nesse artigo eram analisados os registos da GNR, sobre idosos desaparecidos entre 2007 e 2011, sendo referido que o ano de 2011 foi o que registou um maior número de idosos desaparecidos, registando-se 211, tendo como principais causas os problemas de saúde e, sobretudo, a doença de Alzheimer que potenciam o aumento destes casos, constituindo-se por isso um problema social bastante grave.
Nos cinco anos analisados foram registados o desaparecimento de 771 idosos, uma média de 154 por ano, verificando-se nessa altura que o número de pessoas desaparecidas com mais de 65 anos representava já 10 % do total das situações contabilizadas pela GNR.
Dos 771 idosos desaparecidos, 5% foi por fuga dos locais onde se encontravam, quase sempre devido a serem vítimas de maus-tratos, 54% foi por se terem perdido e 41% por outros motivos, onde se incluem as tentativas de suicídio, estando os idosos desaparecidos, em média por 22 horas, sendo que 74% são encontrados vivos, 20% encontrados mortos e 6% desconhece-se o paradeiro, tendo a GNR empenhado nas operações de busca uma média 6 militares das várias valências.
O artigo refere ainda que é no interior do país, onde o fenómeno tem mais expressão, existindo um maior número de desaparecimentos, por motivo de existirem um número de idosos mais vulneráveis, por se encontrarem isolados ou a viver sozinhos, a maioria com problemas de saúde, sem família e com dificuldades económicas, muitos deles encontrando-se deslocados dos locais onde nasceram e viveram, porque com o avançar da idade, foram levados para junto da família ou institucionalizados, potenciando os desaparecimentos, por desconhecimento desses novos locais e por isso, perdem-se facilmente por falta de sentido de orientação.
No ano seguinte em 2013, novamente o DN publicou na sua edição de 28 de dezembro um artigo com o título “170 idosos foram dados como desaparecidos nos últimos 12 meses”, da autoria da jornalista Rute Coelho, que se reportava também a dados da GNR referentes a esse ano e onde o porta-voz da GNR referia na altura que “a Guarda assume estes desaparecimentos como prioritários e tenta localizar as pessoas no mais curto espaço de tempo e na busca por um idoso desaparecido são empregues todos os meios ao dispor da GNR: meios cinotécnicos (equipas homem/cão), a cavalo, do Grupo de Intervenção, Proteção e Socorro, do Serviço da Proteção da Natureza e do Ambiente e patrulhas dos Postos Territoriais”.
Este artigo dava ainda destaque à 3ª edição da “Operação Censos Sénior” que verificou um aumento de 12 601 novos casos de idosos sozinhos, relativamente à 1ª edição da Operação realizada em 2011, que tem como objetivo identificar situações de potencial risco, tendo sido sinalizados nesse ano 28 197 idosos a viverem sozinhos ou em situação de isolamento, na área de responsabilidade da GNR, sendo os idosos que se encontram em perigo, sinalizados às autoridades competentes.
Conforme referi, já por duas vezes tive oportunidade de abordar o assunto aqui no LN, nomeadamente no artigo sobre “crianças desparecidas” e o outro sobre o “mito das 24 horas”, onde no primeiro artigo foram referidas as principais conclusões de um estudo europeu que analisou os diversos países da UE, acerca da forma como cada um dos Estados-Membros lida com o fenómeno das crianças desaparecidas, tendo sido detetada como problema a falta de bases de dados, na maioria dos países, que contabilize todas as crianças desaparecidas, sendo por isso o desaparecimento de adultos uma situação ainda mais problemática, e também a existência de um quadro complexo de definições e categorias de “Criança Desaparecida” em cada um dos Estados-Membros, o que provoca desde logo dificuldades na cooperação entre os países.
No segundo artigo foi referido que não é verdade que as autoridades policiais tenham de esperar 24 horas para iniciar as buscas por uma pessoa desaparecida, independentemente da idade, bem como ainda foi dado conta dos procedimentos que são usados pela GNR para encontrar pessoas desaparecidas, que começam logo após a participação do desaparecimento, com a divulgação do mesmo a todas as Forças e Serviços de Segurança, iniciando-se imediatamente a operação de busca, através da recolha das informações necessárias para se determinar qual a rotina habitual da pessoa desaparecida e quais as suas deslocações normais, sendo após essa avaliação, estabelecido um perímetro de atuação, maior ou menor, de acordo com o tempo de desaparecimento. Solicita-se também a colaboração das corporações de bombeiros locais e da população local, para sob as ordens do Comandante territorialmente competente serem constituídas equipas de busca, reforçadas pelos binómios cinotécnicos, que são obrigatoriamente usados nas buscas. A GNR pode ainda, na localização de pessoas desaparecidas, recorrer á localização celular do telemóvel, que esteja na posse da pessoa desaparecida, recurso que em muito tem ajudado a encontrar uma grande maioria dos desaparecidos.
E como mais vale prevenir do que remediar, termino com a informação que todos devem ter conhecimento, especialmente quem tem idosos à sua responsabilidade: Informar a GNR o mais rapidamente possível, sempre que desapareça um idoso; Se um idoso é visto na rua com sinais de desorientação comunicar imediatamente o facto à GNR; Os familiares de idosos devem ter atenção redobrada nas fases de transição, por exemplo quando o idoso muda de morada ou é institucionalizado; O idoso nunca deve sair para a rua sem identificação; No caso de doentes com algum tipo de demência, utilizar uma pulseira ou um colar de identificação, com um número de telefone para contato, podendo-se também optar por um dispositivo de localização GPS; Para os doentes de Alzheimer aconselha-se a inscrição no Programa “Rumo Seguro”, uma pareceria da “Alzheuimer Portugal” com a GNR.