Opinião: “É preciso perder a vergonha de ir buscar dinheiro a quem está a acumular dinheiro”.


Um “grito” de um cidadão que ama profundamente este nosso Portugal, e que gostaria de o ver catapultado para a Europa, não a Europa marginal dos países mal geridos e empobrecidos, mas a das economias centrais com maiores níveis de riqueza, melhor distribuição da mesma, e uma população com níveis de vida próximos aos da classe média alemã, francesa ou inglesa.

José António de Sousa

Presidente e CEO da Liberty Seguros.

Mensagem de fim-de-ano publicada na Vida Económica

A corrupção impede que o Estado cumpra cabalmente o seu papel. Quem abrir hoje as páginas do jornal que melhor retrata o que de miséria ainda existe neste país, o Correio da Manhã, irá ler uma notícia que a mim me chocou profundamente, me deixou mesmo com os olhos marejados de lágrimas, e uma inquebrantável determinação de continuar a lutar, com todos os meios ao meu alcance, por um Portugal melhor, o que pressupõe o combate sem quartel à lacra da corrupção.

A foto que ilustra a notícia mostra uma velhinha de 82 anos, de costas, certamente pela vergonha que essa senhora está a passar, a olhar para todos os pertences (móveis, roupas, utensílios de cozinha, etc.) que conseguiu acumular ao longo da sua vida, e que foram despejados na rua por um senhorio que certamente tem uma pedra de gelo no lugar do coração.

A velhinha, ao fim de uma vida de trabalho de 40 anos, reformou-se com 410 euros mensais. Pagava de renda de casa 80 euros. Deixou de a poder pagar quando o filho ficou desempregado, e veio viver com ela, juntamente com o neto. Se já é virtualmente impossível a alguém de 82 anos viver com 410 euros por mês (as contas de medicamentos em muitos casos levam a grande parte destas reformas de miséria), expliquem-me lá como é possível essa pessoa ter ainda de partilhar esse rendimento de miséria com um adulto e um adolescente ?

Estamos em Portugal, um país europeu que está há mais de 20 anos a receber subsídios da Europa para modernizar a nossa economia, e contribuir a aproximar o nosso nível de vida ao nível de vida que os europeus têm, não estamos na Síria ou no Burundi. É inadmissível que casos de miséria como aqueles que ainda hoje vivemos em Portugal (este do jornal é apenas a ponta do iceberg) continuem a verificar-se em Portugal, já na segunda década do século XXI. Estou de acordo com a esquerda quando diz que não é com caridade que resolvemos os muitos problemas que temos. A caridade é um veículo transitório para minimizar os impactos da pobreza, enquanto tudo fazemos, coletivamente, para a erradicar.

Estou totalmente em desacordo com a esquerda quando evidencia pela sua forma de atuar que o que procura é empobrecer a sociedade, indo buscar “sem vergonha” ainda mais dinheiro àqueles que à custa de muito trabalho conseguem ter uma vida decente num país como o nosso, em vez de tudo fazer para o ir buscar aos que sem trabalho e esforço, e sem cumprir as suas obrigações de cidadãos, o conseguem acumular de forma ilícita.

Foi este grito de revolta que me levou a escrever estas linhas, agora publicadas na Vida Económica.

A todos um fantástico 2017, em companhia de quem mais amam. E que o espírito e a chama da solidariedade se mantenha viva na memória de todos, não para perpetuar a pobreza, mas para que todos recordem que o caminho é a sua erradicação. Combatendo a corrupção.


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